Post by aquaphorrecords on Jan 28, 2020 11:21:18 GMT -3
A capa de Norma Claire para a edição de janeiro da Vogue está deixando tudo e todos de pernas para o ar, e ansiosíssimo pra conhecer a mais nova descoberta do pop. Mas não é só isso.
A entrevista concedida pela cantora para a cantora é das maiores já publicadas e aborda Norma de uma forma madura, falando sobre assuntos como fé, política, feminismo, corpo, redes sociais e muito mais. Vem ler!
Como é a sua ligação com o mundo que a rodeia? Como se relaciona com os outros?
Eu sou uma pessoa bem fechada no primeiro momento, não me abro com facilidade. Mas sou extrovertida, e no momento em que me sentir confortável e se eu me sentir segura sou bastante brincalhona, gosto de falar, gosto de conversar. Não sou tímida, mas dependendo da ocasião eu me fecho um pouco.
E o que procura no outro? Numa amizade, por exemplo.
Na verdade, eu não procuro as pessoas. Acho que é o tipo de coisa que acontece naturalmente e não quando você busca. Gosto que aconteça com naturalidade, leveza, e também não tenho qualquer pressa para qualquer tipo de relacionamento, amizade, nada. Então eu gosto que as coisas aconteçam no tempo certo.
Como mantém a sua verdade no meio desse fogo de artifício?
São meios que mexem com a imagem e consequentemente com o ego, então às vezes se torna um ambiente competitivo, um ambiente que eu não sinto que é seguro, e por isso é que é tão importante identificar os anjos que cruzam o nosso caminho. A minha família é a minha base, ter amigos fora desse meio, cuidar muito bem dessas amizades, porque são essas pessoas que me ajudam a manter o pé no chão, a me lembrar quem eu sou. Outro componente essencial é fé. Independentemente do que acredita, ter fé em algo. Eu acredito muito em Alá e ele sempre me aproxima da minha essência.
Como descobriu essa fé?
Eu nasci numa família muçulmana, no "Almadrasat Alththanawia"– e foi aí que me comecei a aproximar de Alá, porque até então era mais um costume da família e era mais religião do que um relacionamento com Alá. Algo mais superficial. Desde cedo ouvia a palavra, tinha costume de ir à mesquita, mas na adolescência foi quando comecei a levar a sério. Sempre deposito toda a minha esperança, medos, entrego tudo nas mãos de Alá, porque sozinha não conseguiria. Essas são as coisas essenciais para manter o eixo, o foco, não se perder. Fé, família e pessoas que me inspiram e que eu amo.
E o que lhe fazem bem?
É importante sentirmo-nos amados. Uma pessoa que ama vai ser sempre verdadeira e preocupar-se com você. E são essas pessoas que quero ter por perto, até no trabalho. Eu trabalho com pessoas que sei que gostam de mim e em quem eu confio. Jamais trabalharia com alguém – na minha equipe – que acho que não gosta de mim. Aí eu acho que vai para um lugar frio demais. Já temos de trabalhar com tanta gente que não conhecemos, então tento rodear-me ao máximo de pessoas [com] que me sinto segura, confio e [que] gostam de mim. Porque eu sei que são essas pessoas que me vão dizer a verdade, que vão brigar comigo quando tiver de brigar, que vão dar elogios verdadeiros – porque a gente também ouve tanto elogio que é da boca para fora – e que vão fazer críticas construtivas e então eu tento me rodear dessas pessoas.
É muito fácil cair no erro de estar num meio em que todo mundo só elogia.
E é muito fácil acreditar na opinião do outro, principalmente quando é negativa. É muito mais fácil acreditar na opinião negativa do que na positiva. Mas independentemente de ser boa ou má, é fácil acreditar no que o outro tem a dizer. A gente tem esse costume. De ouvir muito e refletir pouco. De olhar pouco no espelho e buscar autoconhecimento, então é muito mais fácil acreditar no que o outro tem a dizer. Por isso eu prefiro ter pessoas em que confio e que vão ser sinceras por muito que a verdade seja dura. Isso me ajuda. O processo de autoconhecimento não é fácil, mas é necessário. E ter pessoas assim ao seu redor facilita.
Olhando para trás, mudaria alguma coisa?
Sou muito grata por tudo o que eu vivi e o que eu passei. Sou grata inclusive pelos momentos difíceis, porque eu acredito que tudo o que aconteceu na minha vida foi com a permissão de Alá e para o meu crescimento pessoal e aprendizado. Mas... se eu pudesse evitar um bocadinho o sofrimento que eu passei por falta de autoestima, de amor próprio, eu diria para mim mesma que eu deveria escutar um pouco menos os outros e me amar. Fazer esse exercício diário de me olhar no espelho e ver coisas positivas e praticar diariamente esse exercício de me amar porque eu passei por uma fase um tanto complicado por conta disso. Críticas e comentários, às vezes por muito bobos, externos, interferiram e potencializaram isso. Mas sou grata por esse processo duro e difícil porque hoje fica muito claro para mim o quanto eu me tratava mal e eu hoje já não permito que ninguém faça isso muito menos eu comigo mesma.
E depois pessoalmente não lhe dizem, é só na Internet.
Sim, pessoalmente não dizem, mas cometem um outro erro, que é: “Como você está bonita você está muito magra.” E aí, magra vira sinônimo de elogio. E não é. Abre o dicionário que você vai ver. Magra é uma característica física, assim como gorda não é uma crítica. E sempre que fazem isso eu faço um sorriso meio amarelo, porque eu não quero ser grossa e falar: “Mas eu era feia quando eu não estava tão magra?” E aí como eu não quero deixar a pessoa constrangida eu dou um sorriso meio amarelo e a pessoa fala “não, é sério, nunca esteve tão linda, você está muito magra”. É doido como as pessoas têm esse, não sei se é um apego, com um corpo e a aparência, sabe? São raras as pessoas que chegam perto de mim e falam “meu Deus como você está feliz, como a sua energia está boa, como você parece estar mais leve”. As pessoas sempre falam primeiro da aparência. Aí eu fico tentando, porque eu estou aqui falando, mas a gente pratica o mesmo, às vezes é difícil e eu cometo erros também e é uma coisa que eu fico tentando lembrar. Olhar para alguém e não falar da roupa, de caras. Às vezes, eu me pego fazendo essas coisas.