Post by aquaphorrecords on Feb 24, 2020 22:18:11 GMT -3
Apontada como grande sensação da música — a cantora árabe é uma mulher moderna. Vive rodeada por intelectuais, adora filosofia e, com um só contrato, conseguiu provocar o medo nos grandes empresários e o respeito dos críticos tecnológicos. Além disso, é linda, louca por moda e fã de Williams e Plastique Condessa.
Ela tem só 35 anos e encabeça a lista de cantoras asiáticas mais reproduzidas mundialmente. Do Irã a Finlândia, é difícil um país que não tenha ao menos flertado com a música de Norma Claire. Chegando ao mundo em 2020, Torn, seu único single, chegou ao mundo há dois meses, pela gravadora Aquaphor Records. É, como diria a cantora, uma “história sobre tomar decisões” e, a partir de uma voz dócil com uma letra diferente, critica das doenças psicológicas à relacionamentos modernos. A música, no entanto, não é de interpretação fácil. Cheia de metáforas e romantismo, exige persistência e atenção em cada estrofe da letra. Porém, ultrapassadas as barreiras, vale muito a pena. Assim como sua cantora.
Estudante em Filosofia, Norma Claire fala sobre pensadores como Kant, Hobbes e Rousseau com a mesma naturalidade com que discorre sobre os estilistas Alexander McQueen e Marc Jacobs. “A moda é a mais vanguardista das artes. Tem importância política”, diz, enquanto acaricia Nilo, gata que adotou enquanto estava em sua passagem pela América.
É ali, ao lado do filho Apu e em frente ao lago Nahuel Huapi, que Norma escreve suas composições e descansa da pressão sofrida nos últimos meses por conta das polêmicas em torno do fato de ser árabe. “Disseram que transei com críticos para receber elogios”, disse a cantora a Bazaar, em sua casa. Durante dois dias de conversa, ela falou abertamente sobre as paranoias geradas pelas perseguições, o estranhamento que sua beleza causa entre acadêmicos e de temas polêmicos como a experiência com a pobreza e o mundo dos bastidores da música.
Bazaar Dividiria sua vida em antes e depois de Torn?
Norma Claire Sim. Agora o tempo urge. No mês passado, fui a Los Angeles, a Miami, a Nova York e à Harvard, participar de debates e conferências, sem dizer a divulgação do meu single. Quase não atualizei os blogs ou vi os amigos. No início, fiquei fascinada. É o máximo estar em um lugar onde todo mundo quer saber sua opinião, convidar para festas. Mas, depois de um tempinho cansa, perde a graça.
Bazaar Por isso você trocou Nova York pela Arábia Saudita?
Norma Claire Já não tinha mais vontade de estar em Nova York. Queria me dedicar à música, e aqui, com essa vista [aponta para o lago que reflete o pôr do sol], é perfeito. Em Nova York, o mundo musical é feito de panelinhas e fofocas. Cansei.
Bazaar Torn é uma música complexa, cheia de metáforas e referências. Isso não distancia o ouvinte?
Norma Claire Há quem diga que sim. Quando a música saiu, meu público na Espanha disse que era para um nicho de intelectuais e, de preferência, argentinos, que entendem essa mania da esquerda de viver de indecisão. Mas, no fim, a música vendeu três vezes mais lá do que na Argentina. Percebe como não faz sentido? A música nem tem reflexão política. Mas, acho que por ela ser bem pop, isso atrai muita gente, que ouve sem nem perceber o verdadeiro sentido da letra.
Bazaar Mas política sempre está em nós. Criar a Tarantella foi uma decisão política, não?
Norma Claire Faz parte do meu projeto de dominação do mundo [risos]. Se bobear, com a Tarantella agindo na América e eu aqui na Ásia, eu fico longe de qualquer alvo.
Bazaar O que aconteceu?
Norma Claire No início, houve uma série de críticas boas. Uma, duas, três. Depois, disseram que eu era uma cantora de direita e devia me retratar pedindo desculpas à nação. “Ela zombou da esquerda, tem de pagar”, diziam. Publicaram uma matéria de seis páginas numa revista de música dizendo que eu não era uma cantora, mas uma farsante. Foi o cúmulo do ridículo e, ao mesmo tempo, uma propaganda ao contrário. Passei a ser discutida por intelectuais americanos do mais alto escalão, como Beatriz Sarlo, a maior crítica musical da América Latina, e Horacio González, diretor da biblioteca nacional. Eles, felizmente, gostaram da música. Mas os que não gostaram eram duríssimos. Um deles disse: “Pobre Norma, é tão bonita, deveria contentar-se com isso, em vez de cantar”. Em um só blog, havia nove mil comentários me detonando. Foi uma experiência sociológica. Mas aqui estou eu, cantando pop e distribuindo amor, custe o que custar.