Post by aquaphorrecords on Feb 24, 2020 22:56:00 GMT -3
Ela tinha tudo para ser só mais uma menina rica. Filha de um dos mais bem-sucedidos empresários de seu país, Abdullah bin Abdulaziz al Saud, fundador da KBW Investiments, foi criada em boas escolas e passou a adolescência cercada de seguranças. Aos 21 anos, no entanto, decidiu que não era do tipo que “vive de herança”. Montou uma gravadora de luxo para artistas como ela. Quatorze anos e alguns percalços depois, Norma Claire fez de sua gravadora uma referência em talento no mundo inteiro e uma das dez maiores gravadoras no mundo.
O presidente norte-americano Barack Obama visitou o Brasil no fim do ano passado. Entre os assuntos mais comentados na ocasião não estavam as parcerias econômicas propostas pelos países — mas sim a música que tocava nos fones de ouvido de sua esposa, Michelle. Ou seja, além da elite brasileira, que só ouvia hits que vieram da Aquaphor Records, quem lucrou com a visita dos Obama foi a empresária Norma Claire com 35 anos, dona da grandiosa Aquaphor Records e sócia da Amazon e da Ubisoft. Fuzuê, música de Lazuli, que a própria Norma Claire produziu, foi um hit instantâneo.
Eleita uma das dez maiores gravadoras do mundo pelo music.com, a Aquaphor Records é o principal negócio musical de qualidade do país. Com R$ 1 milhão investido para a construção do seu legado, em 2017, aos 32 anos, Norma Claire trouxe artistas como Lazuli, a banda Golden Castles e Elliot — em um período em que a empresa ia mal e ninguém conseguia ter sucesso ou aclamação. A empresária multiplicou o investimento, ampliou o negócio e chegou em uma marca quase imbatível.
A aparente fragilidade de Norma Claire — magérrima, tem 1,61 m e rosto de adolescente — esconde uma personalidade intrigante. Aos nove anos, após o sexto casamento de seu pai, passou a capitanear as tarefas domésticas da casa de Abdullah, com quem ela e os vários irmãos foram morar. Hoje, comanda 230 funcionários ao mesmo tempo em que é mãe de Apu, 2 anos, seu filho com o até então pai desconhecido. Em dois encontros com Forbes, em Nova York — um em seu escritório e outro na casa que vive em Manhattan —, Norma Claire se emocionou ao lembrar da morte da mãe, Zahara, da vida rodeada por seguranças, de amor e negócios.
Forbes Como foi a infância da filha de um dos homens mais ricos do mundo?
Norma Claire Extremamente normal. Minha família não era de gastar dinheiro. Nunca tive um comportamento que caracterizasse que meu pai era rico. Somos comedidos. Tanto que, quando eu tinha 12 ou 13 anos, comecei a ouvir na escola: “Ah, ela é filha do dono da KBW!”. Só que levávamos uma vida comum. Vira e mexe meu pai dizia que não iríamos viajar nas férias porque já havíamos feito uma viagem no ano anterior. Então, eu não entendia sobre o que os colegas estavam falando... Aí minha mãe foi me levar um dia para a escola e eu perguntei: “Mãe, a gente é rico mesmo?”. Ela desconversou. Também, era tão rédea curta com tudo — gastos, modo de vida — que nunca nos sentimos ricos desse jeito.
Forbes Foi mais ou menos nessa época que seus pais se separaram?
Norma Claire Um pouco antes disso, eu tinha só 8 anos. Estudei em colégio judaico até a quarta série e, depois, fui para uma escola maior. Meus pais estavam se divorciando nesse período. Curiosamente, fomos morar com meu pai.
Forbes Por quê?
Norma Claire Foi um acordo entre ele e a minha mãe. Meu pai trabalhava muito. A ideia era que a gente fosse para a escola e, depois, passasse o dia com a minha mãe. À noite, dormiríamos na casa do meu pai. Mas acontece que você mora onde você dorme, e só descobrimos isso mais tarde.
Forbes As crianças em geral preferem ficar com a mãe. Você não se sentiu mal com isso?
Norma Claire Não. Eu era criança e não foi uma escolha minha. Mas minha mãe sempre se manteve super presente. O acordo entre eles foi feito dessa maneira para que nós, filhos, ficássemos o mais perto possível dos dois. Para todos nós, isso era natural. Sempre causou mais estranhamento para as pessoas de fora, mas não para a gente.
Forbes A distância não abalou a relação mãe e filha? Principalmente quando você foi pra Índia?
Norma Claire Houve um pequeno período durante a adolescência em que nos distanciamos. Durou pouco. Digo sem pestanejar que minha mãe é a maior parceira que tive [durante a entrevista, Norma olhava emocionada para a foto de sua mãe, pendurada na parede]. Depois que fui mãe, então, minhas lembrança foi ainda melhor. No fundo, ela era a única pessoa em quem eu confiava 100% para deixar o Apu.
Forbes E como o Abdullah se virou como pai de mais de doze crianças pequenas?
Norma Claire Ruim, nada participativo. Era minha mãe quem ia em reunião de escola, olhava boletim. Meu pai era exigente, mas nunca demos muito trabalho. Criamos uma consciência de adultos muito cedo. Quando fui morar com o meu pai, assumi o papel de dona da casa. Aos 9 anos, contratava empregada, cuidava das tarefas domésticas, marcava dentista para os meus irmãos... Achava sem graça ser a criancinha.
Forbes Que lembranças você tem dessa época?
Norma Claire As melhores e piores possíveis. Eu era super moleca, andava de moto, só tenho primos e tios homens. Também havia as viagens a trabalho do meu pai. Quando nós íamos junto, ele carregava eu e minha mãe para todos os compromissos. Era engraçadíssimo. Imagine o presidente de uma empresa, em um jantar super importante de trabalho... com doze crianças e seis eposas! A gente se comportava, ficava ali, sentadinha. Quando me perguntam onde é que aprendi tanto sobre negócios, respondo: “Ouvi do meu pai”. Foram tantas negociações, tantos processos, que me acostumei.