Post by butterflyeffectrecords on Mar 11, 2020 12:24:20 GMT -3
Boa noite, meus demoninhos preferidos! Aqui quem fala é a Banshee e você está escutando o Banshee Radio! Bom, nós já estamos no Episódio 4 então eu suponho que todos já saibam o que eu faço por aqui mas vou explicar uma última vez para que entendam. No Banshee Radio, eu, Banshee, dou minha opinião sobre projetos de meus colegas de trabalho do ramo da música. As vezes esses projetos são escolhidos por mim, as vezes por vocês através de enquetes do Twitter. Dessa vez, fui eu quem escolhi mas vou postar uma enquete no fim desse episódio para vocês escolherem que projeto eu vou comentar no Episódio 5. O projeto que eu escolhi dessa vez foi o álbum Error do artista Elliot, que todos vocês devem conhecer por bons ou maus motivos [risos]. Então sem mais, vamos para o aclamado Error.
“wakanda”
Essa melodia é TUDO. Eu amei quão bem ela age como faixa introdutória, resume bem o conceito do album e principalmente como ela é forte e característica, totalmente coerente com a identidade e a cultura do Elliot. ISSO É DEMAIS! Além de tudo, é uma faixa que eu escutaria várias vezes sem enjoar porque é muito divertida! E a letra, caralho, essa letra! Opa, esqueci que não posso falar palavrão aqui, desculpa [risos]. Continuando, essa letra é demais, as rimas são ótimas e como ele cita esses caras! Basquiat, Obama, homens negros poderosos! E todos, absolutamente TODOS os versos têm o mesmo impacto, cada palavra é uma bala no corpo de racistas e essa é só a primeira música! Eu amo quando um artista deixa bem clara a sua visão e seu posicionamento político e o Elliot fez isso com rimas impecáveis e muita personalidade. E a última estrofe falando de como o estereótipo do negro criminoso ainda é recorrente! Eu estou muito animada pra ouvir o resto do projeto.
“ismália”
Apesar de essa melodia ter um ar de retrô, ela ainda segue o conceito do album com algumas quebras de compasso e isso é muito legal de ouvir. Tem algo de viciante em músicas que te enganam com delays e exclusão de batida no fim do verso e isso foi muito bem executado nessa música. E tudo fica melhor quando a melodia sai pra dar lugar à batida e aos versos, a imersão no conceito só melhora! E a letra! Esse paralelo que o Elliot traça entre o Mito de Ícaro e o poema Ismália é muito bom, faz muito sentido e de certa maneira os dois representam muito bem o que a sociedade faz com negros que tentam ascender, ela fica a todo tempo tentando derrubá-los. Ícaro e Ismália, os dois tentaram coisas que eram impossíveis... Isso é genial. E toda essa crítica à violência policial também é muito bem colocada, já que eles são o sol do Ícaro e a gravidade da Ismália para pessoas negras. Ótimo trabalho.
“minotauro de borges”
A essa altura, eu acho que toda melodia do album vai ser uma jornada. A integração desse tambor foi muito bem feita, apesar de não soar como um berimbau isso me lembra muito da capoeira que meu pai tanto me mostrava quando eu era uma garota. É brasileiro mas também é muito hip hop e essa combinação ficou ótima, sem parecer forçada. Ao longo da música, a melodia também vai se juntando às outras no conceito de Error, parecendo uma coisa meio hip hop futurista mas bem sujo, como um futuro mais pra Cyberpunk do que pra Star Trek vocês me entendem? Eu liberei meu lado nerd, ah não! [risos] Eu gostei dessa mas não mais do que das outras. Eu gosto de como o Elliot usa elementos divinos e mitológicos nas letras dele, faz parecer um discurso mais solene... e a referência a mitos gregos continua nessa música, isso é muito interessante! Eu também gosto de como ele liga doenças psicossomáticas à opressão e à injustiça porque isso acontece com muita frequência! Na verdade, eu gosto tanto que até fiz isso na minha própria música Quicksand! Enfim, voltando ao Elliot, essa letra é muito bem pensada, dá pra perceber que ela levou horas e muita dedicação.
“kanye west da bahia”
Essa melodia é talvez a minha preferida até agora. Ela me lembra as bandas de escolas negras e isso é um elogio GIGANTE. Absolutamente tudo é divertido nessa música, desde os instrumentais até o flow dele que dá um ar satírico, é tudo agradável de escutar. . A letra é muito forte, além de falar do que já sabemos, sobre o racismo e a violência desumana contra os negros, ele também fala do apagamento histórico e cultural dos negros da maneira mais perspicaz e com o exemplo mais grandioso: o whitewashing e a europeização de Jesus Cristo. Isso é demais!
“666” Oh! Eu amo esse número! [risos]
Eu tenho certeza que essa melodia usa um sampler de um hip hop famoso e antigo mas eu não consigo resgatar na memória o nome da música... Enfim, esse rearranjo ficou muito bom, muito mais romântico e sensível. Essa flauta no refrão deu o toque final! Isso é muito emocionante, esses instrumentais quase me fazem chorar e também são tão simples, eu amo músicas hip hop que são praticamente instrumentais, e com isso eu não quero dizer sem vocais mas sim sem muitos efeitos eletrônicos, eu acho que dá um ar de verdade na música. A letra é um ótimo hino de empoderamento negro e as metáforas são muito bem pensadas.
“black cash”
A melodia é talvez a mais eletrônica até agora e apesar de também ser bem divertida, acho que é comercial demais pra esse album. Não que seja inferior às outras, ela é ótima mas nós estamos na sexta faixa, tudo que veio antes criou uma expectativa grande demais pra essa música, entendem? Liricamente, essa música está entre as melhores com certeza, além do racismo negro e dá ascensão dos negros na sociedade, Elliot também convidou a Reiko pra usar seu local de fala sobre machismo, misoginia e racismo amarelo, sem deixar a música incoerente. Eu posso dizer que essa letra é uma das melhores que eu já escutei não só no cenário hip hop mas no musical como um todo.
“luz”
Essa melodia parece ser a mais simples até aqui e mesmo assim ela é muito eficiente. Algo nela nos faz pensar em um feixe de luz e isso torna a experiência muito mais interessante. Um feixe de luz escapando por um buraco na parede, por exemplo, é uma ótima metáfora visual sobre os negros na sociedade e a falsa visão de meritocracia que é imposta sobre eles. Uma música eleva seu nível em 100% quando ela nos faz pensar em uma imagem. A letra também fala de racismo como tudo nesse album mas diferente das outras, ela também faz uma reflexão sobre a sociedade no geral, sobre alguns valores invertidos como achar que preservativos só servem pra não engravidar quando o principal objetivo deles é impedir a contração de ISTs... ISTs... “O mundo está regredindo” é o que eu acho que Elliot quis dizer aqui e ele está absolutamente certo.
“caverna de lascaux”
Essa melodia é também bastante comercial. Ela é bem divertida e eu entendo que o Elliot também quis dar uma animada depois de melodias sentimentais, eu também penso nisso, então acho que a mudança brusca aqui é aceitáve. aceitável. A letra também é interessante, faz uma referência à Cassia Eller que é uma lenda na música brasileira e a caverna de Lascaux é uma ideia ótima pra mostrar que o racismo é algo inventado pelos que se dizem covilizados, já que ele nunca foi praticado pelo instinto humano.
“error”
Chegamos à faixa-título do álbum. Acho que essa melodia é minha preferida. Ela é a que mais segue o conceito do álbum, com essa quebra de compasso e loops que parecem mesmo erros tecnológicos. Ela também é bem melancólica, deprimente, e vocês sabem como eu amo esse tipo de coisa. A letra é tão boa quanto a melodia, fala sobre como esse sistema todo é uma fábrica de doenças e como todo mundo que se opõe a ele desenha um grande alvo nas costas e fica marcado pra morrer. Eu já gostava desse album mas nessa música ele se superou, resumiu muito bem todo o projeto, não existe opção melhor que essa para uma faixa título.
“todo dia”
Essa melodia é uma ótima maneira pra se encerrar um álbum. Ela resume muito bem toda a revolta e todo o lamento presente durante todas as faixas e ainda dá um ar cinematográfico, um efeito um pouco parecido com a última faixa do Aphantasia: Seed, do Apollyon, e isso é um elogio grandessíssimo. Essa letra também é um ótimo resumo sobre o album, fala sobre a luta negra para sobreviver e ainda fala abertamente sobre o caso do garoto que foi torturado no hipermercado Extra, isso requer muita coragem e garra. O trocadilho do primeiro verso também sempre funciona, apesar de ser um pouco comum.
Bom. Esse álbum não só é um entretenimento de qualidade, ele também é uma aula de filosofia, história e sociologia. Ele é um dos odes mais realistas que eu já vi à nossa sociedade, cheio de emoções reais e válidas. A revolta, a melancolia, o humor irônico, tudo isso é de se admirar e de exaltar. Nós precisamos escutar exatamente o que é a sociedade sem filtros sob a perspectiva negra e Elliot nos proporcionou exatamente isso. Nós precisamos escutar mais Elliot para aprendermos e evoluirmos como seres humanos e como civilização. Obrigado, Elliot, por construir esse universo maravilhosamente dissimulado e nos dar um choque de realidade. Todo mundo deveria ouvir esse album porque todo mundo precisa dele.
Bom, demoninhos, esse foi o Banshee Radio, já estamos no episódio quatro! Eu espero que eu possa continuar fazendo isso com vocês durante bastante tempo mas pra que isso aconteça, eu preciso do apoio de vocês então que tal escutar meu álbum The Wife’s Lament agora que já escutaram a minha opinião sobre o Error? Fiquem com meu novo single, Torn, em colaboração com a talentosíssima Agatha Melina, agora e obrigado por me escutarem! Tchau!
[Torn toca no encerramento do programa]