Post by butterflyeffectrecords on Mar 19, 2020 14:03:38 GMT -3
Boa noite, meus demoninhos preferidos! Aqui quem fala é a Banshee e você está escutando o Banshee Radio! Continuando a falar mais sobre mim mesma, hoje nós vamos falar sobre esse álbum maravilhoso e muito inportante pra mim, o The Wife’s Lament.
A primeira faixa é “Quicksand”
Eu sei que a duração da música foi bem criticada mas eu não me arrependo porque ela teve o efeito que eu queria, essa intro meio melancólica deu um tom cinematográfico e antecipou o que o album todo apresenta. Eu amo demais essa melodia, foi ótimo trabalhar com o Soo Man que é o produtor chefe da filial coreana da Butterfly Effect, ele compreendeu muito bem o que eu queria que as pessoas sentissem e contribuiu muito pro conteúdo de todas as músicas. Escutem esse instrumental, o violino, o baixo, a bateria, é tudo uma viagem angustiante! Esse final totalmente cinematográfico, ele me lembra aquela cena do filme “Gone With The Wind” em que a Scarlett arranca um vegetal do solo e grita “Eu juro nunca mais passar fome” ou algo assim, eu não lembro muito bem... A primeira estrofe da música é uma das melhores coisas que já veio na minha cabeça, “You were on your knees now I’m on mine”, isso é uma referência ao pedido de casamento tradicional em que o homem se ajoelha para pedir a mão da mulher mas depois ela é quem fica de joelhos, submissa. Eu também quis falar um pouco sobre como as convenções sociais favorecem o estilo de vida dos homens em uma família tradicional.
“The Wife’s Lament”
Acho que essa melodia é uma das menos melancólicas do album, apesar de não ser uma das mais rápidas ou animadas. No começo do casamento, nada parece tão ruim, mas a perda de liberdade já começa a aparecer em situações simples como não ter tanto tempo pra cuidar de si mesma porque precisa cuidar da casa e da família. A melodia é um pouco mais comercial mas foi proposital, eu queria que essa música em específico fosse mais acessível, porque ela talvez seja um resumo, mesmo que superficial, de como as mulheres têm que abrir mão de si mesmas pela família mas o homem quase nunca faz o mesmo. Na verdade, esse modelo, esse padrão de família tradicional, é construído para garantir o sucesso do homem e a submissão da mulher às vontades dele. É uma concepção ridícula e totalmente machista.
“Gluttony”
Gluttony é um tipo de resposta a The Wife’s Lament. A melodia me lembra muito das mulheres de antigamente, todo aquele visual pin up, rainhas da beleza se envolvendo com caras maus. Apesar das decisões ruins, elas faziam o que queriam da vida delas e isso me inspirou nesse instrumental e nessa letra. Ela também é um pouco comercial mas passa longe do pop, talvez seja um pouco country misturado com rock mas com certeza não tem nada de pop nisso. A letra é sobre uma mulher que quer ser independente, fazer dinheiro e realizar seus sonhos, mas está presa nesse modelo arcaico de família.
“We Don’t Know Love”
Essa melodia é bem limpa mas é bem triste, acho que é a mais comercial do álbum mas eu amei a maneira como a produção foi feita aqui, eu lembro como fiquei animada quando o Sooman me mostrou esses sintetizadores, tudo fez sentido na música e eu fiquei muito feliz com o resultado final. A música fala sobre como todos relativizam os erros dos homens e culpam as mulheres. Se ele é agressivo, é tarefa da esposa educá-lo, se ele trai é porque a mulher não é boa o suficiente. Esses homens querem uma mulher ou uma babá? C*ralho!
“Pretty Girl”
Nessa melodia, eu quis deixar um pouco o lamento de lado e trazer a fúria da mulher traída e no vocal também, eu até queria ter colocado alguns gritos como no SCREAM! Mas decidi ficar só na impostação vocal pra não ficar muito diferente do que veio antes e do vem depois. Essa música originalmente era uma diss track mas eu percebi que “canções” era uma ótima metáfora para atitudes então abandonei minha raiva pessoal e comecei a escrever sobre a raiva coletiva que as mulheres traídas sentem da amante e como essa atitude é profundamente machista, mas enraizada nas nossas cabeças.
“Dope”
Dope é mais uma continuação de Pretty Girl, sonoramente falando, mas aqui a fúria está direcionada ao marido e não mais à amante. Eu gostei muito de escrever essa porque é uma mulher exaltando a si mesma e tomando consciência de que a traição foi um erro do marido, uma insuficiência dele e não dela. Eu também amei gravar ela, eu estava realmente com raiva e isso se traduziu nos meus vocais.
“Heroin”
Essa música também era uma diss track pra uma artista pop que vocês provavelmente conhecem. Eu vejo uma postura muito desesperada por números, por dinheiro e charts, da parte dela. Na verdade, essa música não foi feita com o intuito de ridicularizar ela mas talvez de dar um conselho, talvez de ajudar ela a entender que basear sua felicidade na aprovação dos outros é algo muito perigoso. Quando os outros não gostarem mais dela, ela vai achar que a própria vontade não é relevante. Não compensa agradar milhões de pessoas se você não é capaz de agradar a si mesma. Essa melodia foi feita com a ajuda do meu pai, foi uma das poucas que eu escrevi quando já tinha voltado para os Estados Unidos, depois da semana que eu passei trabalhando com a equipe da Coréia do Sul e com os meninos do HEXAGON. Ela é muito pessoal. Ninguém me entende como meu pai então é muito bom ouvir as opiniões dele sobre minha música, ele me faz perceber quando eu estou me rendendo um pouco demais ao mainstream.
“A Man’s World Is Satan’s World”
Nessa melodia, eu estava pronta pra me render de vez à melancolia e à solidão. Eu também contei com a ajuda do meu pai pra essa melodia porque eu queria ter o mesmo efeito de várias músicas que ele gosta. Meu pai é um rockeiro nato então ele tem algumas ideias que ajudam a definir o tipo de artista que eu quero ser, que impacto eu quero ter na indústria musical. Talvez essa música seja uma das mais pessoais que eu já escrevi, ela me ajudou muito a relembrar alguns traumas que eu tinha me feito esquecer e me fez sentir melhor. A letra mescla bem a tristeza e a revolta, então eu gostei muito do resultado final.
“Torn”
Eu acho que nenhum instrumento tem o poder de retratar tanto a melancolia quanto o baixo e ele cumpriu muito bem o papel dele nesse instrumental. Eu gostei muito de trabalhar com a Agatha nessa música, acho que não seria tão boa sem as contribuições dela. Nós nos orgulhamos muito quando essa música estava pronta. “Nós criamos a faixa de encerramento perfeita!”. E é isso que eu penso até agora. Torn é a música de encerramento perfeita. Quando eu e Agatha escrevemos essa música, eu senti que ela entendeu totalmente todos os sentimentos que eu queria que os ouvintes tivessem. Nós nos conectamos em questão de minutos! A Agatha é uma artista muito ousada e dedicada ao que ela faz. Foi uma experiência totalmente satisfatória.
Se vocês soubessem o amor que eu sinto por esse album... Eu só tenho a agradecer à minha banda, aos produtores, ao meu pai, à Agatha, a todo mundo envolvido nesse processo criativo maravilhoso. E eu também preciso agradecer a vocês, que fizeram desse album um sucesso e com uma indicação ao Grammy na categoria mais importante, Álbum do Ano. O The Wife’s Lament me arrancou muitas emoções, eu não vou mentir. Eu quebrei algumas canetas e derramei muitas lágrimas enquanto montava esse álbum, que foi meu primeiro grande projeto. Talvez ele não seja o album do ano pra bancada do Grammy ou para parte da população ou até parte do meu próprio público, mas ele é o álbum do ano pra mim. Eu sou muito grata por ter colocado tanto de mim em cada verso, em cada acorde, e ter feito tantos de vocês se identificarem com isso e talvez até se sentirem melhores.
Bom, esse foi o episódio nove do Banshee Radio, obrigado por me escutarem frequentemente e com tanta avidez. Fiquem com Torn, single e faixa de encerramento do meu álbum indicado ao Grammy, The Wife’s Lament. Tchau!
[Torn toca no encerramento do episódio]