Post by aquaphorrecords on Apr 7, 2020 16:05:45 GMT -3
O programa começa tocando o refrão de Believer, segundo single da cantora Norma Claire, até ficar em segundo plano pela voz do radialista, que cumprimenta os ouvintes.
BBC: Believer, de Norma Claire! Boa tarde pessoal. Tá uma primavera linda, nunca tiveram tantas flores aqui em Londres, mas lembrem-se, fiquem em casa! Não é hora de sair, não por enquanto. Hoje nossa convidada especial estará em ligação e prometeu ter uma boa conversa com a gente. Mas antes de tudo, recados do Ministro da Saúde: Lavem bem as mãos, usem álcool em gel, máscaras ao sair de casa e evitem o contato! Todo cuidado é pouco! Enfim, vamos começar? Alô, tá me ouvindo Norma Claire?
Norma: Tô sim! Boa tarde pessoal, boa tarde pessoal da BBC! É um prazer imenso estar falando com vocês, agradeço muito o convite. Estava ouvindo agora a introdução e olha, tenho que concordar! Tá uma primavera maravilhosa por aqui. É minha primeira vez na Europa e é realmente uma pena não poder experimentar isso. Ainda não perdi as esperanças, então tô remarcando minhas viagens. Um dia ainda vejo o Big Clock (risos). Olha, se ouvir som de coisas batendo no chão me perdoa? O Apu tá numa fase rebelde e eu deixei a babá com ele, então não posso evitar.
BBC: Ah, a maternidade... A gente tem visto algumas artistas assumirem esse cargo, né? A nossa queridíssima Williams anunciou a gravidez dela! O que acha disso?
Norma: Eu simplesmente amei a notícia! A performance dela no Grammy foi emocionante, e a revelação foi a cereja do bolo. Na verdade, eu já sabia um pouco antes. Nós somos amigas próximas e costumamos falar sobre essa vida fora dos holofotes. Mas minha outra amiga do coração, Glinda, também é uma mamãe e nós somos praticamente melhores amigas! Nossos filhos tem a mesma idade, então sempre que eles se encontram pra brincar, eu e Glinda bebemos algo e jogamos uma conversa fora.
BBC: Bebem? Achei que muçulmanos não bebiam.
Norma: Mulheres muçulmanas só podem beber em ocasiões especiais, e não casualmente. Eu sigo isso.
BBC: Acha que perdeu o respeito do seu país por quebrar tantas regras?
Norma: Não sinto que quebrei regras, pelo contrário. Tudo pelo qual já comentei em público e militei foram coisas já conquistadas pelas mulheres muçulmanas. O que eu realmente quero fazer é dar visibilidade a isso. Não sei se eles me odeiam por usar maquiagem e beber, mas eu espero que não. Espero que isso seja um fator de admiração e mudança.
BBC: Norma, como você pretende trabalhar a questão visual do seu álbum? É nítida a diferença entre o clipe de Torn e o encarte do seu single-album Make me Believe. Aliás, qual o seu plano?
Norma: Me pegaram! Bem, o visual do álbum vai ser algo colorido, simétrico, bastante aesthetic. São cores que agradam ao olhar. Toda a sincronia, algo que quero trabalhar nesse projeto, vai ser essencial pra isso dar certo. Aliás, queria anunciar que o clipe de Believer está por vir. Não pensem que eu esqueci, quero ter o mesmo empenho pra todos os meus singles.
BBC: Falando em singles, o que podemos esperar do próximo?
Norma: Vocês finalmente vão me ver fazendo um feat! Na verdade, já fiz um dueto com minha amiga Lilith $ em Fathers Dance Again, música presente no álbum dela. Foi algo bastante lindo e pessoal, mas meu single será algo semelhante ao que já apresentei. Vai ser pop, gostoso de ouvir, e vai ser parceria com alguém que gosto muito. Mas vamos com calma, certo? Meu single-album só foi lançado a duas semanas, ainda tenho grandes planos com ele, pretendo divulgar bastante ele no dia em que eu for ao Rock in Rio. Enfim, com um passo de cada vez nós conseguimos grandes conquistas, certo?
BBC: Uau, spoilers. Já sabemos da estética, sabemos do próximo single. O que mais podemos saber?
Norma: Talvez, mas só talvez, a pré-venda do meu álbum venha junto com meu terceiro single. Mas depende do andamento das coisas até lá, e depende até da data que eu anunciar (Risos).
BBC: A gente sabe que além de cantora você é uma empresária e tanto. E aí, como vai seu ramo empresarial? Quais os seus planos?
Norma: Por incrível que pareça, eu tô conseguindo ir bem. Só tenho a agradecer a lindíssima da Blooming Flowers, que fechou uma parceria com minha gravadora e deu investimento o suficiente pra nós começarmos outros projetos. Já tenho muitos novos contratados, contratos com grandes marcas, e até eventos marcados. Evento esse que eu cheguei a anunciar no Twitter, mas tive que cancelar porque foi muito em cima da hora e também pela proximidade ao Rock in Rio. Muitas gravadoras estão muito ocupadas com esse evento, principalmente nessa temporada de Abril, onde acontecem tantos lançamentos, principalmente lançamentos de álbum. É preciso tempo, calma e garra.
BBC: Quais foram suas dificuldades no inicio da carreira de empresária?
Norma: O machismo, mas acredito que essa seja uma dificuldade de quase todas as mulheres que trabalham em um ramo empresarial. Eu era colocada em segundo plano, me faziam de faz-tudo, nunca fui ouvida. Ser rebaixada era triste, mas cair a ficha de que a ingenuidade não ia me tirar disso doeu mais ainda. Tive que ter muita coragem pra me despedir, e mais ainda pra começar meu próprio negócio. É difícil, duro demais. Você vê seu dinheiro ir embora e você torce e reza pra que ele volte. E quantas foram as vezes que não voltou? A única vez que realmente passei necessidades foi na adolescência, foi quando tive meu primeiro contato direto com a pobreza. Acho que se não fosse esse momento, eu seria uma pessoa mimada e mesquinha agora. Mas passei por aquilo e foi duro, e passar por uma luta outra vez foi desgastante. Mas a sensação de ser ouvida, de ser enfim valorizada, não tem preço. Não tem nada que pague a satisfação de saber que as pessoas ouvem você, que as pessoas gostam das suas ideias. Eu me matava demais pra criar protótipos, fui uma mecânica e tanto. Já criei celulares do zero. Pra chegar, mostrar a ideia pro meu chefe e ele simplesmente descartar, como se fosse um nada. Mas o que realmente me matava era a hipocrisia. Foram tantas as vezes que roubavam minhas ideias. Hoje eles ainda tentam copiar, mas graças a minha parceria com a Amazon, tenho uma forte equipe de advogados que evitam o roubo dos meus projetos ou qualquer tipo de plágio.
BBC: Quais dificuldades você passou na adolescência?
Norma: Quem me acompanha sabe dessa história, já falei dela umas milhares de vezes. Mas quando completei dezesseis anos, eu resolvi ir embora de casa. Não foi escondida e nem nada, mas dividir a casa com mais de 20 irmãos era difícil demais. Fui embora e nem se importaram muito. Fui pra índia, um país perto e com cultura que eu sabia que podia me adaptar. Fui com o dinheiro de só uma semana pra dormir num hotel, então só tive uma semana pra arrumar um emprego. Não era o salário suficiente, até porque na época a economia da Índia era muito quebrada e as coisas eram extremamente caras. Já desmaiei no trem a caminho do trabalho porque não pude comer antes. Foram momentos difíceis. Mas com 19 arrumei um emprego melhor e tive dinheiro pra voltar pro meu país. Aos 21 comecei com a criação dos meu protótipos, e aos 22 um homem, que seria meu marido dois anos depois, se interessou e me contratou. Hoje tenho 36 e posso dizer que sou a universal. Brincadeira (risos), mas é uma história que posso me orgulhar.
BBC: Alerta de assunto pesado. Vamos mudar de assunto, só um pouco. Seu álbum vai ter influências árabes?
Norma: Uma música em específico sim, com frases em árabe e tudo. Mas não o álbum todo. No começo da minha carreira eu fui muito questionada em entrevistas sobre o quanto eu me posicionava sobre a minha nacionalidade, sobre eu não ser militante o suficiente. Acho sim que é necessário, mas poxa, essa sou eu. Quem vem me acompanhando sabe como não sou de falar, aparecer. Já passei por situações, como a discussão com a Wylla Gomez no MAMAS, onde eu me calei. Não é algo que eu escolho, entende? Mas a cada dia tento melhorar isso, ser influente. Mas sinceramente? Só de eles verem uma mulher usando hijab se apresentando no Grammy, já é incômodo o suficiente.
BBC: Uma mulher que incomoda! Isso não te assusta?
Norma: Assusta, assusta demais (Risos). Poxa, qualquer pessoa famosa precisa admitir que é assustador estar nos holofotes. A sensação de ser observada e saber que um fã pode invadir sua casa ou coisa do tipo, é muito, muito aterrorizante. Veja o que Brie e Lazuli passaram por exemplo? Acha que isso não me deu medo na hora que eu resolvi me tornar artista? Minha existência incomoda mesmo, mas o diálogo e debate que eu quero promover tem tendência em diminuir isso. Não me odeie, não se incomode comigo. Só, aceite...
BBC: E essa foi Norma Claire, pessoal! Norma, foi realmente um prazer imenso conversar contigo. Você traz uma energia surreal, espero mesmo que você apareça aqui de novo, e pessoalmente!
Norma: Digo o mesmo, me senti confortável durante a entrevista inteira. Obrigada mesmo gente! Um dia eu volto, prometo!
BBC: E fiquem agora com Believer, da Norma Claire!
Norma: Tchau gente!
A rádio toca Believer e a transmissão se encerra.