Post by bad_barbie on Apr 16, 2020 20:07:55 GMT -3
Dark Bae esteve hoje no Jonathan Ross para uma entrevista sobre a sua nova música, e dar alguns detalhes sobre seu novo EP que está para sair dia 01 de maio. O programa é a primeira entrevista da cantora russa, que antes ficava apenas por debaixo dos panos como a produtora de Plastique Condessa.
O programa começa de forma convencional, com Jonathan entrando e agradecendo a todos os seus espectadores. Então ele anuncia a entrada de Dark Bae. Dark Bae entra. A cantora está usando um coturno e um vestido preto, com o rosto totalmente sem maquiagem. Então, a entrevista começa.
Jonathan: primeiramente, é um prazer tê-la aqui, você já era bem famosa antes de começar carreira por conta de suas produções arrojadas, tanto em questão de pop quanto em rock. Por que você acha que demorou tanto para se sentir confortável para debutar como cantora?
Dark Bae: eu, como artista, sempre preferi estar por trás da produção, nunca gostei muito de estar nos holofotes, até mesmo em trabalhos que eu fiz antes da Plastique Condessa que não tiveram tanto prestígio quanto ela. Mas até quando era esses cantores extremamente underground para quem eu produzia, eu não sentia vontade de seguir carreira como cantora. Eu acredito que a Plastique foi a cantora que mais me incentivou a fazer a minha própria carreira, então em março desse ano eu decidi finalmente que ia gravar o meu primeiro EP. E agora, estou produzindo para mim mesma, aproveitando que a Plastique está em pausa em questão de produção e dando mais atenção para fazer a era de seu álbum já lançado.
Jonathan: e qual você acredita que vai ser a sonoridade de seu novo EP? Já que você é basicamente um camaleão em questão de produção, tendo produzido músicas da Liebe, composto para Norma Claire, tendo produzido a carreira quase inteira de Plastique, etc... São muitas facetas diferentes?
Dark Bae: sim, são, acredito que isso é por conta que eu já produzo desde os meus dezenove anos, são aí oito anos produzindo para os mais diversos artistas. Mas enfim, eu descreveria meu EP como algo mais puxado para o Dark Pop, e acredito que vai ser a sonoridade que eu quero utilizar para minha carreira. Inclusive, meu EP de estreia tem alguns feats muito bons que eu queria fazer desde que entrei nesse universo um pouco mais mainstram, e eu estou realmente muito empolgada para o lançamento do mesmo.
Jonathan: aliás, você nasceu na Rússia, não é? Quando você se mudou para os Estados Unidos e decidiu ficar por aqui?
Dark Bae: bem, minha mãe é estoniana e meu pai é russo, e nós saímos ainda nos anos 1990 vindo para os Estados Unidos para fugir da gigantesca crise que se instaurou na Rússia após o fim da guerra fria, então na realidade eu moro aqui nos Estados Unidos desde criança e fui completamente educada com a cultura daqui. Mas eu ainda tenho dupla nacionalidade, e posso voltar para a Rússia a qualquer momento, inclusive sei falar russo muito bem mesmo tendo sido educada em um país que fala inglês. No meu EP tem até alguns versos que eu escrevi em Russo, eu gosto de dar essa energia multicultural para os meus projetos.
Jonathan: você ficou muito tempo produzindo para a Plastique, na verdade, você produziu a maioria dos projetos da cantora. Muitos fãs da cantora tem uma piada interna sobre você estar, na verdade, em um cativeiro da Plastique. A grande pergunta é, a cantora te alimentava direito quando você estava lá?
Dark Bae: *a cantora ri* sim, ela me alimentava direito. Inclusive, do lado da Plastique eu consegui uma parte do dinheiro por conta da minha produção nos discos dela, e pode ter certeza que eu estou comendo muito bem. E espero que expanda o tanto de dinheiro que eu ganho como produtora hahaha! Mas enfim, eu não saía do “cativeiro” porque eu não queria mesmo, eu escrevia músicas e não gostava delas, por isso eu nunca havia debutado antes. Mas quando eu escrevi um 3:33AM, foi amor a primeira vista, e senti que finalmente estava pronta pra lançar a minha carreira musical longe da Plastique.
Jonathan: aliás, você acha que é mais difícil para alguém da sua idade, que já tem 27 anos, ter um debut tão bem sucedido quanto artistas que estão abaixo da linha dos vinte e cinco anos, ou você acha que é equivalente?
Dark Bae: eu não acho, olha aí por exemplo a Williams que é uma das maiores artistas da indústria, e quando ela debutou ela já tinha mais de trinta e cinco anos. Eu acho que o que é necessário para você ter um debut bom é apenas você mesmo, o jeito que você vai se divulgar e tudo mais. Mas não é tão o meu objetivo fazer sucesso, eu estou lançando as minhas músicas por pura diversão. Eu gosto muito mais de ser produtora do que de ser cantora, e você só consegue perceber isso depois que você justamente experimenta como é ser cantora.
Jonathan: você já tinha cantado antes ou essa é a primeira vez que você grava alguma coisa? Você nunca tinha pensado antes, desde o início de sua carreira como produtora, fazer para si mesma?
Dark Bae: bem, eu já tinha gravado antes sim, só que eu descartava tudo. Eu fazia justamente para fazer testes de letras novas que eu escrevia para outros artistas, e testes das minhas mixagens também.
Jonathan: inclusive, como você disse antes, boa parte da sua forma eclética de produzir é por conta dos anos que você passou produzindo para as mais variadas pessoas do meio underground, não é? Quais foram os primeiros gêneros musicais que você mixou na sua carreira?
Dark Bae: então, eu comecei mixando para bandas de punk, já que quando eu era uma adolescente, até mesmo na época onde eu já era considerada uma jovem adulta, eu frequentava muito o meio gótico, e por isso eu tinha muito contato com bandas de darkwave, de metal gótico, rock psicodélico, oitentista e até mesmo o punk! Então foi aí onde começo tudo, isso foi mais ou menos em dois mil e doze, então desde essa época até hoje eu tenho produzido para todo tipo de gente, pop, experimental, mas foi tipo um de cada vez até eu chegar onde eu estou hoje! Eu comecei a produzir PC Music antes mesmo de conhecer a Plastique, foi mais ou menos em dois mil e dezessete que eu comecei a me aprofundar no gênero.
Jonathan: e parece que você ainda não deixou o estilo dark e gótico que você tinha adotado nessa época, não é?
Dark Bae: não, eu acredito que esse estilo sou eu mesma. Eu gosto dessa estética meio dark, eu inclusive apliquei isso ao meu EP, que eu descreveria mais como um “EP de Halloween fora de época”. E acredito que boa parte da minha carreira vai ter essa estética sombria, porque não é algo que está em formação no meu estilo, é algo que já faz uma década, basicamente.
Jonathan: e hoje em dia, com vinte e sete anos, você está debutando como cantora. Onde você espera estar daqui a por exemplo, cinco anos?
Dark Bae: eu espero que eu esteja ainda produzindo músicas, tanto para mim quanto para outros artistas. Eu acredito que eu vou estar sempre produzindo, é algo que eu amo, por mais que eu volte a ser anônima. Eu pretendo também continuar a minha carreira como cantora, mas de uma forma um pouco mais orgânica, não sendo o tipo de cantora por exemplo que lança álbum todo ano. Inclusive daqui a cinco anos posso estar lançando o meu segundo ou meu terceiro, não sei como vão funcionar as coisas até lá, mas espero que a fama não me suba a cabeça.
Jonathan: e mesmo com o status que você acumulou nos dias de hoje, você ainda continua produzindo para esses artistas menores, que nem aparecem na mídia direito?
Dark Bae; sim, eu sou produtora oficial de diversas bandas de punk rock, que estão na indústria aí com em torno de duzentos ouvintes mensais, na minha opinião a música não é algo que você elitiza, é algo que é para todos. Não é porque agora eu sou famosa que eu irei deixar de produzir para bandas menores, a minha arte é acessível a todos, e isso eu tenho certeza que eu não vou mudar. Nunca vou ser por exemplo uma daquelas pessoas conhecidas como ‘produtora das estrelas”, eu não sou assim. Da mesma forma que eu trabalho com Plastique e Norma Claire, eu trabalho com muita gente que não teve as mesmas oportunidades que as duas.
Jonathan: e você tem admiração por algum artista, para quem você gostaria de produzir ou gostaria de fazer um featuring?
Dark Bae: meu sonho é fazer um featuring com a Agatha Melina. Eu já estive envolvida na produção do Remix de Earthquake, e lá eu conheci ela, e ela é uma pessoa incrível. Além dela, eu acho que eu gostaria de fazer featuring também com a Williams e com a Kierah. Eu amo quase tudo que a Williams lança, Aphrodite está entre meus álbuns preferidos, junto com o The Muse da Kierah. Para mim, essas são as artistas mais incríveis que tem que eu ainda não trabalhei. Se fosse uns tempos atrás, também adoraria fazer um featuring com a Plastique, mas eu já produzi demais para ela, e nós somos super amigas, não acredito que seja assim de tanta necessidade um featuring com ela.
Jonathan: Princess Death não foi uma faixa que fez necessariamente tanto sucesso quanto as músicas que você está apenas como produtora fizeram. Você acha que essa música tem algum potencial para ter uma boa posição nos charts mundiais?
Dark Bae: potencial toda música tem, tem muitas músicas aí que estão fazendo sucesso que foram completamente contra todas as expectativas possíveis. Mas eu acho que fazer músicas para serem sucesso não é muito a minha proposta, por mais que desde outubro tenha muita gente dizendo para eu fazer um trabalho solo. Acredito que essas pessoas vão acabar ouvindo Princess Death, mas não acho que se alastre em todo lugar como um hit de verdade faz.
Jonathan: e onde você acha que boa parte do seu público está centralizado?
Dark Bae; segundo o histórico de streams da minha conta no Spotify, a maioria dos ouvintes das minhas músicas estão espalhados pela Europa, tipo França, Alemanha, Rússia, Inglaterra, esses lugares. Acredito não ser uma cantora que tem um padrão de músicas muito americanizado, na verdade eu acho que os Estados Unidos é um dos países que menos me ouve. Então, acho que o meu sucesso vai se resumir aqui pela Europa mesmo, nas próximas semanas pretendo ir divulgar em talk shows alemães, por exemplo, porque tipo, uns quatro já me mandaram convite por conta do desempenho de Princess Death lá.
Jonathan: e você fazendo sucesso por esse meio europeu se sente mais conectada com a sua origem russa, ou você se acostumou com a cultura americana?
Dark Bae: a realidade é que eu nunca me acostumei com essa parte americanizada de onde eu cresci, eu sempre tive muito contato com a cultura soviética, meus pais faziam questão de não deixar que eu fosse apenas mais uma garota americana. Então, eu me sinto realmente em casa quando estou na Europa, a estética sombria, as construções antigas, a musicalidade europeia, eu me sinto conectada por tudo isso, até porque eu sou apaixonada por arquitetura gótica e sou apaixonada pela bruxaria europeia também, então a Europa é basicamente um combo completo de quem eu sou, ela exala uma melancolia que me atrai de uma forma quase mágica.
Jonathan: então, você sente uma real atração pelo continente europeu, né? Parece que é algo fora do comum...
Dark Bae: sinto, por mais que o país onde eu nasci não tenha sido palco de grandes eventos até o século XX, onde a Rússia teve um pouco mais de protagonismo. Mas até mesmo a história russa eu acho interessante. Acho interessantes as revoluções industriais, a revolução francesa, as fases do feminismo europeu mesmo, acho tudo muito incrível na história europeia. Menos a parte medieval, que aí é um pouquinho nojenta, mas a parte que veio depois da queda iIgreja Católica, que foi cheia de revoluções e mudanças, essa parte eu gosto.
Jonathan: parece que você tem certa atração pela estética anarquista.
Dark Bae: sim, tenho, na verdade isso foi algo que fazer parte do meio punk me trouxe. Por conta dele, Anarquismo sempre foi algo que fez parte da minha vida, até mesmo os meus pais foram meio anarquistas, já que eles eram comunistas e tudo mais. Eu acho que crescer e passar todas as fases da minha vida nesses ambientes acabou moldando todo o meu espectro político. Ainda mais depois de conhecer a Plastique, que era uma anarquista enorme no começo da carreira.
Jonathan: e por que não decidiu seguir a mesma linha de Plastique no começo da carreira, de fazer essas músicas mais... Militantes?
Dark Bae: bom, por mais que eu tivesse um espectro político bem forte, eu sempre preferi muito mais essa vibe sombria de filmes de terror, algo até um pouco gótico mesmo. Acredito que mesmo eu tendo produzido boa parte da carreira da Plastique, nossas preferências sonoras são um pouco diferentes, e acredito que os fãs pensariam que nós teríamos uma estética bem parecida, mas eu sinto até que é bem diferente.
Jonathan: então as suas músicas são mais baseadas em filmes de terror?
Dark Bae: sim, meu EP é totalmente baseado em contos de terror e horror, dos mais diversos tipos de folclore diferentes. Eu peguei coisas desde personagens bíblicos, até experiências com um pouco de poltergeist, invocação de demônios, essas são as minhas inspirações principais para a produção do meu EP. Eu acredito que eu quero passar uma imagem aterrorizante quando eu lançar ele. Tem inclusive alguns featurings muito bons nele, que eu acho que apenas enriquecem o projeto.
Jonathan: e quando que começou esse seu grande fascínio por filmes de terror e horror?
Dark Bae: desde que eu era criança eu me divertia muito com vários desses filmes, assisti O Chamado na época que lançou e fiquei morrendo de medo, por exemplo. Mas antes já tinha assistido vários como Poltergeist, Possessão, O Exorcismo de Emily Rose, O Exorcista, entre outros clássicos do cinema. E passou os anos e minha paixão não diminuiu, na verdade só aumentou, e até hoje amo. Então, eu queria que meu primeiro projeto me descrevesse ainda que um pouco, e eu acho que essa estética de filmes de terror me representa um pouquinho, já que sempre foi o que gostei.
Jonathan: e qual desses filmes que você tanto gosta é o seu favorito?
Dark Bae: acredito que com o tempo, esses filmes mais famosos deixaram de ser os meus preferidos em questão de medo. Eu acredito que os filmes europeus independentes, que são produzidos de uma forma com menos dinheiro, são muito mais assustadores que esses super famosos. Não sei se é por conta de eu ter assistido diversas vezes e de forma exaustiva quando era criança, mas eu tenho muito mais desses do que dos outros.
Jonathan: e essa foi Dark Bae, cantora, compositora, diretora, produtora e grande fã de filmes de terror. O que podemos esperar do EP?
Dark Bae: não posso dar muitos detalhes, mas se me deixar performar Princess Death eu aceito.
Jonathan: claro! Fiquem agora com Dark Bae e Princess Death!!
*Dark Bae performa Princess Death e a entrevista acaba*