Post by aquaphorrecords on Apr 23, 2020 17:35:55 GMT -3
O programa da GNT, apresentado por Gaby Amarantos, Monica Martelli e Pitty, aborda de forma diferente o que sempre está sendo discutido na mídia e nas redes sociais. Sempre recebendo uma convidada, elas aproveitaram da ilustre presença da cantora árabe Norma Claire, que bem entende de tabus.
Antes do programa começar, é exibido um comercial avisando as precauções necessárias para lidar com o coronavírus. Como no mundinho Empire a América Latina já está livre de coronavírus, o programa é feito com plateia ao vivo.
Gaby Amarantos: Boa tarde pessoal, estamos hoje ao vivo com as nossas lindas Pitty! E Monica Martelli! E com uma salva de palmas, nossa convidada e cantora Norma Claire.
Norma Claire: Muito obrigada pelo convite, gente! A GNT foi um dos canais que eu mais assisti enquanto fiquei no hotel durante minha passada aqui no Rio, e honestamente, foi uma das programações mais maravilhosas que já vi. Eu juro que não consegui sair do canal, veio um programa atrás do outro e eu hiper vidrada. Há séculos eu não vejo uma programação com temas tão naturais, debatíveis, bons de ver e aprender, sabe? E quando vi mulheres fortes reunidas e conversando sobre diversos temas, até me lembrou de um talk-show que existe lá no meu país.
Gaby: A gente te convidou porque você, como artista árabe, um pouco mais velha que o comum que nós vemos, te vemos como um exemplo de diferenças. Você é diferente Norma, é bem única. E o que vamos debater no programa de hoje é justamente sobre isso. Até que ponto ser único é bom? Como as redes reagem a isso? Como o preconceito está tão velado entre a sociedade? Pra isso, nós também convidamos a social media Paula Alvares pra nos explicar como as redes sociais praticam esse preconceito.
Paula Alvares: Boa tarde, boa tarde pessoal. Bem, eu trabalho com redes sociais a mais ou menos 13 anos e frequentemente meus estudos mudam, porque o ódio aumenta cada vez mais frequentemente. Um exemplo ótimo que eu posso estar usando aqui é o BBB. Ninguém pode negar que está sendo uma edição histórica, com reconhecimento internacional, todos estão um pouco conectados. E agora na onda final, podemos citar os finalistas.
Pitty: A Thelma é um exemplo que eu sempre vejo ódio nas redes, né?
Paula: Exatamente. A Thelma foi a única que restou no time dos anônimos, e por ela levar como prioridade suas duas melhores amigas no jogo, por sua vez, brancas, está sendo atacada. Ataques esses que passam dos limites! Eu já vi a chamarem de isqueiro, mucama, e tanta outras coisas horríveis.
Monica Martelli: Também tem um pouco de machismo aí, né? O participante Babu, por exemplo, outro finalista, que também é negro, teve erros gravíssimos dentro da casa, todos os seus amigos foram brancos, e ainda assim não sofre o mesmo ódio que ela.
Gaby: É aquele ditado: o ódio da mulher preta sempre vai gritar mais alto do que o do homem preto. Eu mesma já fui mega cancelada, sigo cancelada, enquanto há artistas homens negros com uma visibilidade enorme. Não digo que não
errei, não digo que uns sofrem mais racismo que outros. Mas tem uma diferença nesse ódio generalizado sim.
errei, não digo que uns sofrem mais racismo que outros. Mas tem uma diferença nesse ódio generalizado sim.
Norma: As vezes eu sinto um pouco disso. As pessoas pensam que eu, por ser muçulmana, obrigatoriamente preciso estar militando, dizendo meus lados em todas as brigas internet a fora. E caso eu não faça isso, sou a oposta, a que está no lado ruim. Sabe, meu jeito sempre foi esse. Uns chamam de ser em cima do muro, eu prefiro chamar de ser indiferente. Eu gosto de falar quando dá na calha, entende? Essa pressão é tanta. As vezes eu tenho vontade de dar uma resposta grossa, tipo “Eu sou cantora, não militante”. Mas seguro minhas rédeas. Sei que cantores homens não sofrem nem parte dessa pressão inteira. É o que eu gosto de dizer: mulheres precisam fazer uma coisa mil vezes melhor pra que ela possa ser vista e aclamada como um homem.
Pitty: Incrível como tudo nesse programa as coisas sempre voltam pro tema do machismo, né? Eu até esqueci do tema original.
Gaby: Vish, eu também! Ah, lembrei. A pergunta do dia era “Até que ponto ser único é uma coisa boa e como a internet reage a isso?”. E então, alguém se propõe a responder?
Norma: Acho que você pode ser único desde que você não fuja dos padrões da sociedade, inclusive dos padrões novos que conquistamos. Atualmente não é mais ruim ser um pouco acima do peso, usar o cabelo colorido. Mas é sempre se controlando pra não extrapolar ou senão todos apontam o dedo pra você, feito ridículo. É sobre não usar roupas extravagantes, nada muito colorido, é sobre usar maquiagem pra cobrir seus detalhes. Eu sou uma pessoa que preza tanto por detalhes, e ver isso no dia a dia é uma coisa deprimente demais.
Mônica: A internet sempre diz aceitar as diferenças, aceitar que uma pessoa pode ser única. Mas daí entra outro tema que nós já debatemos por aqui, né? A hipocrisia. Porque ao mesmo tempo que ele diz aceitar alguém, está criticando o jeito de outro.
Pitty: Acho que uma coisa é a barreira do senso. Até onde a barreira de originalidade pode chegar? E quando a passa, fica feio. E infelizmente, essa é uma verdade que conservadores sempre podem usar pra criticar o jeito único das pessoas e das coisas. Tipos de arte que conseguem incentivar pedofilia, conseguem incentivar mais preconceito, desencadear pensamentos escondidos em mentes aparentemente brilhantes.
Norma: Isso é muito verdade! Se tem uma coisa que as pessoas na internet e na mídia sabem usar é o que eu chamo de “máscara”. Quem assiste Desperate Housewives sabe o que eu tô falando. É sempre o ser humano evoluído, aberto a aceitar todos. Mas não pode acontecer um único acontecimento polêmico que já solta todos os argumentos podres possíveis! Mostra seu verdadeiro lado. Mas o pior é quando é o contrário! Pessoalmente, a pessoa é um nojo, soberba, e na internet sabe ser um anjo. É inexplicável. Acho que todo mundo tem uma amizade assim, né? Amizade entre aspas!
Gaby: Nossa, com certeza. Norma, você não só é única como tá trazendo um visual um tanto único no seu álbum. Conta mais pra gente.
Norma: Bem, o meu álbum será um pop que não foge muito do comum, mas feito com muito carinho, né? Mas no visual, eu quero estar trabalhando a sincronia, o efeito das cores. Digamos que meu álbum tem um efeito cromático. Você imagina cores, imagina cenas ao ouvir ele. O fator da dança, que eu tô trazendo nos meus clipes, performances, e que pretendo trazer no meu show agora do Rock in Rio, no dia 24, é só mais uma coisa pra agravar minhas intenções com o visual. Dá uma sensação boa quando estamos vestidos iguais, dançando iguais. No caso, eu não quero trazer o incômodo de tirar essa sincronia. Quero trazer o prazer mesmo. Quero que meu álbum dê prazer nas pessoas. Ele já está perto, finalizado, e espero que todos gostem, né?
Gaby: Que tal a gente encerrar o programa hoje com você cantando um dos seus singles do seu projeto?
Norma: Meu atual single de divulgação é Believer, faz parte do meu single-album e vai ser um prazer apresentar essa música pra vocês.
Gaby: Com vocês, Norma Claire cantando Believer! Até semana que vem pessoal!
Norma Claire começa sua não longa performance de Believer, enquanto os créditos sobem. Gaby Amarantos ainda segura o CD do Make me Believe, e dá uma réplica do CD para cada membro na platéia. Nisso, os créditos sobem e o programa acaba.