Post by bad_barbie on Apr 23, 2020 22:23:32 GMT -3
- BLOOD E SPRING
Plastique Condessa, em seu último projeto, Behind The Sun, trouxe uma nova proposta e uma nova perspectiva em tudo na sua carreira; com um som e com letras muito mais obscuras do que o seu primeiro projeto, estética visual muito próxima do que é conhecido como as Riot Grrls nos anos 1990, Condessa tem alcançado as principais posições dos charts mundiais com músicas como “Fight With Myself” e “Blood”, ambas top cinco nas paradas mundiais.
Seu trabalho mescla muitas vertentes do que conhecemos como punk, como art punk, e elementos de outros subgêneros do rock, como é de exemplo o New Metal, um pouco de Synthpop também, e algumas faixas de indie rock. Plastique nessa era também aproveitou mais de outras mídias que não foram na televisão para divulgar seu single, “Blood”, que com a divulgação em internet, rádios e revistas, acabou debutando na nona posição nos charts mundiais.
Nem sempre foi fácil para Plastique Condessa; nascida em 11 de novembro de 1998, a cantora latino-americana, antes de se tornar uma das maiores cantoras de rock da atualidade, teve uma infância e uma adolescência problemática, onde teve vezes onde ela foi simplesmente expulsa de casa quando tinha apenas quatorze anos, após muitas brigas e discussões com a sua mãe, até o seu envolvimento com gangues quando a cantora tinha por volta de dezesseis anos. Foi nessa época, mais ou menos, quando assinou seu primeiro contrato com uma gravadora; Maria Guadalupe, seu nome de batismo, agora seria chamada de Kammy Kandy pelos próximos três anos.
Mas a curta carreira de Kammy no mundo do rap não vingou; alguns anos após entrar nessa gravadora, a cantora experimentou alguns problemas com a lei após incendiar a casa de seu ex-namorado na época, e acabou sendo completamente demitida da gravadora. Sem rumo, Plastique já tinha desistido da carreira musical e já estava completamente pronta para desisitir de seu dom artístico, até conhecer Dark Bae, que hoje, é a sua produtura oficial. As duas acabaram se amigando e decidiram, então começar a trabalhar no primeiro álbum de estúdio de Plastique Condessa, que seria lançado ali por volta do final de dois mil e dezenove. Plastique não imaginava que esse álbum acabaria sendo seu pontapé inicial para o mundo da música, que a levaria para os níveis mais elevados de fama que ela poderia imaginar.
Hoje nós vamos entrevistar essa personalidade da mídia, que tem crescido cada vez mais nos últimos tempos, e saber um pouco sobre sua misteriosa trajetória de vida e sobre o que a cantora tem em mente para os próximos anos.
Plastique, seu estilo tem muita referência à moda punk e grunge dos anos 1990, e suas músicas também trazem essa levada um pouco mais do final dos anos 1980 e começo dos 1990, com gêneros como o punk ou até o indie rock que você trouxe em Spring. Desde quando você tem tanta paixão por essa década?
Desde muito tempo, eu sempre amei os anos 1990 e sempre trouxe bandas com Hole e Bikini Kill como inspirações supremas para mim. Mas não acredito que o Behind The Sun faça tanta alusão assim aos anos 1990, para mim, ele tem muito mais a ver com uma tentativa de mesclar o rock da década de 1970 com o Rock atual.
E como foi fazer a transição do futuro que você trazia da PC Music presente no MADEINCHINA, para a estética retrô de músicas como The Bikini Season, Diamond Days e I Met The Dark?
Não é tão difícil quando a Dark Bae é produtora, porque aquela mulher manda muito bem em absolutamente tudo que faz. Não acredito que eu tive dificuldade em mudar de gênero, porque eu artisticamente já sou naturalmente um pouco metamórfica. O mais difícil para mim foi escrever letras que não estavam na minha zona de conforto, como foi o caso desse projeto. Eu não estava acostumada a falar de sentimentos em minhas canções, então realmente ficava mais difícil a cada
faixa que passava. Mas, no final, eu acabei conseguindo e fiz um trabalho bem satisfatório, pelo menos para mim.
faixa que passava. Mas, no final, eu acabei conseguindo e fiz um trabalho bem satisfatório, pelo menos para mim.
E essa fase foi crucial na sua carreira, não é? Acabou abrindo um leque de oportunidades para novas composições futuras, que não se limitam apenas nas letras políticas do MADEINCHINA e do Catholic Boy.
Sim, fazer o Behind The Sun abriu novas portas para o meu estilo de composição, que ainda não deixou de ser bem pesado, mas está um pouco mais abrangente. Mas eu acredito que eu ainda tenho muita coisa para melhorar no meu próximo trabalho, acredito que dá pra melhorar ainda mais a minha composição e me aventurar mais ainda em novas forma de fazê-la.
Inclusive, em muitas entrevistas atuais, você tem dito a ideia de seu terceiro álbum acabar sendo seu último. Você acha que está terminando sua carreira muito nova?
Não, porque eu não vou tecnicamente me aposentar, talvez só parar de cantar por uns bons anos e me dedicar a outras coisas que eu também tenho vontade de aprender. Eu não acredito que uma carreira artística seja algo que se resuma a apenas uma área, tem tipo, sete artes inteiras para explorar, e com certeza eu não quero me prender apenas em uma. Então, pode até ser que exista um quarto álbum, mas depois de muito tempo sem lançar nada.
E você acha que você estando fora do mundo musical, sem estar lançando álbum, Plastique Condessa que foi alguém que você criou para ser sua personalidade artística, vai acabar sumindo?
A Plastique Condessa nunca vai sumir. Existem muito mais pessoas me chamando de Plastique do que Maria, ou de Guadalupe, ou de Lupita ou o que seja. Na verdade, acho que só para minha família eu ainda tenho meu nome de nascimento. Todos meus amigos me chamam de Plastique, que nem todos me chamavam de Kammy quando eu era Kammy Kandy. Mas eu acredito que nunca mais irei trocar de nome artístico de novo, e vou ficar conhecida para sempre como a Plastique Condessa.
Você acredita que parte dessa mudança repentina de planos do que você quer para a sua carreira daqui a alguns anos, provém diretamente do fato de você nunca ter se dado bem com a fama ou é algo seu mesmo?
É algo meu. Eu sinto que três álbuns são suficientes para mostrar absolutamente tudo de quem sou, todos os meus lados. Eu sinto que a partir do momento que eu passo disso eu vou estar forçando algo apenas para poderem dizer que eu estou lançando algo. E a minha arte não funciona dessa maneira, tem que ser algo totalmente sincero, e que eu me sinta que estou criando algo com esse trabalho.
Onde você espera estar daqui a dez anos? Como você imagina a sua vida em 2030, ano que você já vai estar com trinta e um anos?
Eu provavelmente me imagino morando na Hungria, em uma casa com uns cinco gatos e gerenciando a minha gravadora, a Bad Barbie Records. Eu quero fazer uma gravadora onde pessoas como eu no início da carreira tenham oportunidade de crescer na indústria. Eu sei que tem muita gente como eu, que está tentando recomeçar na vida após não ter dado certo, então eu quero ser a pessoa que dá essa oportunidade.
E como foi o processo de saída do mundo do crime para você acabar se tornando a pessoa que você é hoje?
Foi um processo muito longo e demorado, porque antes mesmo de eu acabar sendo presa na adolescência, eu já não tinha para onde ir, não tinha um lugar para ficar. Eu fui conseguindo me ajeitar depois, mas eu trabalhei muito para conseguir comprar meu próprio apartamento, e ter as minhas coisas. Passei por muita dificuldade, mas consegui. Trabalhei como atendente de telemarketing, como caixa de supermercado, e assim eu consegui ter um pouco de dinheiro. Minhas primeiras músicas foram produzidas no notebook da Dark Bae, inclusive.
E do que você sente mais falta da sua adolescência?
Ah, acho que eu sinto mais falta das amizades que eu tinha quando era adolescente mesmo, eram pessoas incríveis que eu adoraria encontrar de novo se tivesse a oportunidade. Apesar de um pouco problemática, minha adolescência teve sim muitas coisas que eu sinto falta, não foi uma época perdida.
Você já pensou em algum dia, voltar a fazer rap, já que era algo que você fazia quando ainda assinava pelo nome de Kammy Kandy?
NÃO, eu nunca vou voltar a fazer rap, até porque eu era péssima nisso. Era o típico caso de achar que eu sabia fazer alguma coisa, quando na verdade eu fazia de forma horrível e estava apenas passando vergonha. Eu tive ainda um pequeno sucesso em umas paradas pequenas de Los Angeles, daquelas bem regionais, mas não passou disso, e literalmente, não tinha nada a me orgulhar na Kammy Kandy. Eu cantava mal nessa época, não sabia compor bem ainda, não sabia fazer rap, o que eu acho que é uma coisa que é necessária quando se é uma rapper, né? Enfim... É a única parte da minha carreira que eu realmente não gosto.
E você nunca fala, nem mesmo em entrevistas, sobre seu passado antes da Kammy Kandy, não é? Você sente que você, como pessoa pública, se iniciou ali?
Sim, eu sempre falo muito da parte após Kammy Kandy, até porque eu estou na indústria desde muito cedo, Kammy Knady surgiu ali quando eu tinha em torno de quatorze ou quinze anos e foi meu primeiro contato com algo público, então acredito que seja a única parte que eu precise mostrar da minha vida. O que aconteceu antes, ao meu ver, não importa tanto, já que eu não era uma pessoa pública e ninguém tinha nada o que saber da minha vida. Até mesmo porque sempre quando eu estive em minha carreira, eu usei pseudônimos para cantar, nunca usei o meu nome real, então eu acredito que essa parte de antes da Kammy Kandy é quem a María Guadalupe foi, e eu gosto de manter esse segredo sobre ela.
E você é uma artista que preza muito ao fato de que é necessário, mesmo em celebridades, de ter uma parte pessoal que não é revelada, não é?
Sim, principalmente nos tempos de hoje, onde a internet é algo invasivo e tóxico até mesmo para quem não é uma pessoa famosa. Imagina para nós, que estamos dando a cara a tapa na mídia, como isso é. É como se você ficasse cercada por câmeras em todo lugar, expondo sua vida mesmo sem você querer. Então, costumo ser bem reclusa nas minhas redes sociais tirando o Twitter, que é um lugar onde eu posso ser eu mesma e falar coisas aleatórias. Mas Instagram por exemplo, eu nem uso o meu direito, na verdade não gosto nem de tirar foto, deve ser por isso que outras redes sociais além do Twitter não fazem tanto sentido para mim.
E você acha que essa visão atual de como deve ser a vida, totalmente exposta para todos verem na internet, é o que desencadeia os grandes problemas que nós temos na nossa sociedade atual, como é de exemplo a depressão massiva que o mundo enfrenta desde o início da década de dois mil e dez?
Sim, a bolha da internet que se formou no último século nos criou uma imagem a qual devemos seguir a sua própria imagem e semelhança. É um padrão de perfeição muito superior ao que podemos suprir como seres humanos. Nesse padrão, nós não podemos por exemplo cometer um deslize sequer, senão estamos totalmente sujeitos ao que conhecemos como o linchamento virtual. Eu acredito ser muito problemático, porque... Nós, como seres humanos, estamos fadados a errar, e não precisamos que tenha alguém desenterrando um erro seu de cinco anos atrás para te “cancelar” ou coisa assim.
Isso gera a depressão constante que enfrentamos hoje. Junta a falta de privacidade com o bombardeio de informações constante, tão constante que o cérebro às vezes não suporta, eu acredito que seja por isso que hoje, nós vivemos no século da depressão e da ansiedade. Mas acredito que a próxima geração lidará melhor com isso, por já estarem acostumados com essa realidade futurista que nós vivemos.
Inclusive, você já abordou esses temas em projetos passados, não é mesmo?
Sim, eu abordei esse tema no MADEINCHINA, a busca inconstante pela estética perfeita, quem é a pessoa com menos defeitos, quem merece ser exaltada ou rebaixada, tudo isso conta como o artificialismo que eu queria mostrar. A internet é um lugar muito superficial, todos na internet são perfeitinhos e ninguém nunca erra, mas quando alguém acaba errando, o peso que recai sobre essa pessoa é muito maior do que se você fosse errar, por exemplo, nos anos noventa! Se em 2000 você tinha em torno de algumas dezenas de pessoas (exagerando MUITO) para julgar o seu erro, em dois mil e vinte você tem centenas de milhares de pessoas que vão olhar seu erro na timeline, e vão te julgar. Ao mesmo tempo que isso facilita a vida das pessoas sobre em quem podem ou não confiar, cria também um padrão constante que precisa ser seguido, não importa o quê.
E você acha que, pensando desse jeito, os álbuns andam de mãos dadas?
Não acho, na minha concepção são dois álbuns completamente diferentes. Eles são muito isolados entre um e outro, tanto em estética, quanto em tema, ou até mesmo em profundidade. Digo, eu não considero o MADEINCHINA ou o Catholic Boy projetos profundos, por mais que tenha uma mensagem que é quase explícita neles, não é algo que eu fiz acessando as partes mais obscuras de mim, aquelas que eu não conto para absolutamente ninguém. A estética do MADEINCHINA é bem mais divertida e irônica, enquanto a do Behind The Sun é obscura e séria.
E falando sobre seu álbum de estúdio atual, o Behind The Sun, ele fala sobre a depressão, não é? Ao escrever, você viu por essa perspectiva?
Não. O problema que o Behind The Sun atesta é um problema bem mais antigo, que já foi tratado até em músicas do R.E.M. lá no início dos anos noventa, por exemplo. O Behind The Sun fala sobre a constante sensação de estar sozinho nos seus piores momentos, e sobre como isso pode ser agonizante. O álbum em si trata o conceito de você superar essa solidão, e transformar ela em solitude. Foi um processo meu, um processo que eu aprendi e quis documentar para que outras pessoas pudessem usar a sua própria dor para crescerem e amadurecerem. Porque quando você percebe que está sozinho, é a pior coisa que você pode sentir. Então eu queria que as pessoas percebessem que essa narrativa de que você só supera seus problemas se tiver alguém por perto, é falha, você vai superar melhor se você estiver alguém por perto sim, mas é possível superar sozinho, não é algo impossível. Você só precisa se encontrar como seu próprio porto seguro.
Os singles são algumas das faixas mais pesadas tanto liricamente quanto na parte instrumental, isso causou um pouco de choque nas pessoas quando tiveram ao resto do seu projeto. Você achou que essa parte descreveria melhor o seu álbum?
Sim, não que as outras partes não fossem importantes, todas as faixas fazem parte da história que eu criei e desenvolvi, mas do meio do álbum para frente, mais especificadamente de I Met The Dark para o final, são as partes onde toda a ideia do álbum realmente acontece. Então, eu vou dar mais ênfase para essa parte do álbum do que para a introdução, já que eu acho que a introdução do álbum, vulgo duas primeiras faixas, funcionam apenas como ato introdutório mesmo e nada mais, por mais que The Bikini Season tenha chamado muita atenção na semana de lançamento do álbum.
Inclusive, vamos fazer algo; nós vamos comentar cada faixa do projeto individualmente, afim de entender melhor cada faixa e o que você queria passar com elas. Começando com Diamond Days, que é a primeira.
Diamond Days não é uma faixa importante, admito que eu queria até mesmo descartá-la antes do lançamento do álbum, mas é uma faixa que ilustra uma inocência perante a acontecimentos da vida. Por exemplo, é possível perceber a diferença de tratamento dos problemas em Diamond Days e em Spring, em Diamond Days é um momento onde nós temos medo de coisas ruins que possam vir em nossa vida, então nós decidimos simplesmente ignorá-los e seguir em frente. O grande porém é que, quando ignoramos problemas, eles não param de existir. E eles tendem a crescer enquanto você está lá, acreditando que a vida é perfeita e que todas as pessoas são felizes.
E sobre The Bikini Season?
The Bikini Season, de início, era para funcionar como uma introdução ao álbum. Ela é basicamente uma continuação de Diamond Days, mas deixa muito mais explícito esse sentimento de que tudo está perfeito e que não tem nada com o que se preocupar. Essa faixa, apesar de ter quase a mesma ideia da Diamond Days, ela é muito mais importante porque ela é muito mais clara. Eu realmente devia ter deixado ela como introdução do álbum, agora enquanto estou falando aqui, estou refletindo o que eu poderia ter corrigido antes de lançar o disco...
Sim, mas acho que não ficaria muito bem uma Intro seguida de uma Interlude, né? Para você, foi importante esse momento de transição em November Breakdown?
Ok, agora eu me lembrei do porquê de eu não ter lançado essa faixa na introdução do álbum. Eu considero November Breakdown uma das faixas mais importantes, porque ela deixa claro quando foi a transição desse momento de alegria para o momento de dor, eu acho que se eu tivesse lançado The Bikini Season seguida de I Met The Dark, não teria funcionado tão bem quanto funcionou com a Interlude.
November Breakdown acho que é a faixa que mais deixa claro que eu estava falando de mim mesma e de que eu estava falando sobre um surto depressivo que eu mesma tive, porque o título é muito específico para ser uma faixa que não foi feita baseada em um momento mesmo. “Surto de Novembro” é um título forte, eu acho.
I Met The Dark?
Essa é com certeza uma das minhas favoritas do disco, é também uma das mais profundas e uma das que mais dizem como um momento depressivo funciona. I Met The Dark fala do momento onde você percebe que a solidão está invadindo seu corpo, e tomando conta aos poucos. Acredito que foi por isso que escolhi um instrumental bem mais para o lado psicodélico, porque eu queria passar uma sensação de incômodo para qualquer um que ouvisse essa música. Queria que eles escutassem e realmente sentissem a letra, e não que escutassem riffs pesados de guitarra tirando toda a concentração da mensagem. Então, foi uma faixa que eu fiz questão de deixar as partes mais pesadas aonde era instrumental.
É uma das minhas favoritas para single porque é uma das que realmente uma das que mais descrevem a ideia do álbum em si.
E Natural Loneliness? Foi uma música que fez sucesso na Europa, mas não teve tanto prestígio quando falamos de posições mundiais.
Bom, Natural Loneliness foi feita justamente com esse propósito de ser uma música mais regional, então não me atentei a divulgar nos Estados Unidos que é o maior mercado mundial. Não fiz essa faixa para ser um hit, como fiz com Fight With Myself e Blood.
Mas, Natural Loneliness também é uma faixa que gosto muito, por isso escolhi para ser o segundo single da era. Na proposta, acho que ela também descreve o álbum muito bem, porque fala justamente sobre dependência. Foi uma das faixas que foi, inclusive, inspirada no álbum da Agatha Melina.
Dying?
É a faixa mais pesada liricamente falando do álbum, mesmo sendo uma das que mantém a calmaria constante. Dying não é aquela coisa Rock n Roll, cheia de riffs de guitarra e tudo mais, porque eu também queria que as pessoas ao ouvirem prestassem atenção na letra.
Essa faixa representa literalmente o fundo do poço, onde você não tem mais esperanças, onde você percebe que está morrendo pouco a pouco e que não está fazendo nada por isso. Foi uma das faixas que foi mais dolorosa de escrever, também foi uma faixa escrita no meu pior momento, quando levantar da cama era um desafio. Ela foi escrita no mesmo período de Tear Stained Pillow, que é outra faixa que é bem pesada, mas que eu decidi deixar de fora do álbum após fazer inúmeras versões dela e nenhuma me apetecer.
Agora vamos falar de seu primeiro hit na carreira, o primeiro que te consagrou como o nome que você é hoje! O que você tem a dizer sobre Fight With Myself?
Sinceramente, de início, Fight With Myself não era das minhas faixas preferidas, na verdade, era uma das faixas que eu considerava mais farofentas do álbum. Não teve tanto processo de escrever Fight With Myself, já que o refrão é bem repetido e tudo mais. Mas eu achei que esse refrão que era metal e que ainda assim conseguia ser chiclete, era uma boa pedida para as pessoas se acostumarem com a ideia e o conceito de metal.
Mas a música acabou ganhando significado por si própria quando aconteceram coisas que fizeram esse single se tornar um marco na minha carreira! Foi o single que me levou à fama, foi o meu primeiro single a figurar no top cinco nas paradas mundiais e foi também o primeiro em muito tempo que pegou top dez, foi um fenômeno tão grande para mim que hoje em dia é impossível não amar esse single. Ele também tem um certo significado pessoal. Já que ele ilustra o momento aonde eu decidi me levantar e lutar pela minha saúde. A partir de Fight With Myself, o tom do álbum muda completamente e se torna esperançoso, não algo depressivo que demonstra certa aceitação do fato de você estar no fundo do poço. Então, é um dos singles mais importantes na história da minha carreira com um significado muito importante e válido.
Uau, agora vamos falar de seu single atual, Blood. Quais são seus comentários sobre ele, que é um single que está superando até mesmo Fight With Myself?
Eu gosto de pensar que Fight With Myself abriu caminho para Blood passar, porque se eu tivesse lançado Blood de lead single, talvez as pessoas não tivessem digerido tão bem quanto estão digerindo hoje em dia. Blood é um metal muito mais puro do que o de Fight With Myself, então Fight With Wyself deixou as pessoas já habituadas com o meu som pesado. Após isso, foi fácil para Blood subir, as pessoas já queriam um single da mesma sonoridade que o lead single do meu disco trazia, coisa que não aclntecia com Fight With Myself visto que as pessoas estavam esperando pela Plastique da Pc Music, e estavam meio que com o nariz torcido com a nova era.
Blood eu pesei bem mais no instrumental, assim como fiz com Rest In Pain, porque a letra não era tão importante quanto era no primeiro ato do álbum, e sim a sensação agressiva que a música passava.
Rest In Pain?
Rest In Pain é difícil de explicar, porque é uma passagem dentro de outra passagem. É o momento de superação, quando você finalmente ganha aquela luta que você se propôs a travar em Fight With Myself e Blood. Acredito que essas três faixas fazem parte da melhor sequência do disco, e Rest In Pain é outra música que eu tenho um carinho enorme. Quando eu escuto ela, eu penso uma mulher literalmente cantando em cima do caixão de seu inimigo, enquanto está ofegante por ter vencido a batalha. E tendo em vista qual é o inimigo em questão que devia ser combatido, é uma faixa que eu considero emocionante para mim também.
E sobre Rise It Up?
Ela se junta com Diamond Days como uma das faixas mais descartáveis do álbum para mim. Até porque ela também funciona como interlude, só tem quatro minutos por conta da outro que tem no final, afim de fazer uma conexão com a última faixa, que é spring. A letra para mim não é impressionante e não chega nem perto de ser uma das melhores que já escrevi, na verdade eu considero até mesmo uma das piores. Mas os riffs de guitarra no final são muito legais e é isso que eu mais gosto na faixa, então ela não é de todo ruim para mim.
E para finalizar uma das melhores músicas da sua carreira, Spring. Poderia nos explicar como foi o processo para fazer uma música tão grande e com tantos atos diferentes como Spring é?
Spring é uma obra-prima minha, e foi um desafio escrever essa música, pois eu nunca tinha feito algo tão grande e que precisasse ser dividido em atos para acabar tendo sucesso na minha missão. Eu precisei escrever e reescrever essa faixa tantas vezes, para dividir ela de forma coesa, foi o processo mais perfeccionista que eu já tive em toda a minha carreira. Spring tinha dois problemas; o tamanho da canção e o tema dela.
Músicas de treze minutos não são coisas fáceis de se fazer porque qualquer deslize seu, aquilo que era para ser majestoso se torna cansativo e repetitivo, então você tem que pensar como se fossem várias músicas em uma, por isso a divisão em atos.
Mas em todos os atos, mesmo a música falando de um tema específico, tem diferenças na forma que eu me comporto perante ao modo que eu estou lidando com essa problemática. No primeiro ato, eu pareço estar mais conformada com a realidade, no segundo eu assumo um tom um pouco mais aconselhador, no terceiro algo mais agressivo e direto, e assim vai. Eu tentei juntar diversos personagens diferentes em uma música só, na verdade eu não diria nem personagens, eu diria mesmo moods diferentes em questão ao problema apresentado. Eu acho que eu nunca conseguirei ser tão sincera comigo mesma quanto fui naquela música, eu considero tudo para mim.
Sim, e aliás, você vai apresentá-la no Rock In Rio? Se for, vai apresentar uma versão menor da música, feita especialmente para lives, ou vai cantar a música inteira mesmo ela tendo treze minutos inteiros?
Acredito que vou cantar a música inteira mesmo, se eu retirar qualquer um dos atos da música, ela já não faz mais sentido. Todas as partes dela são importantes e todas as partes devem ser cantadas, mas óbvio que não vai funcionar como uma performance do jeito que eu faço, cheia de pirotecnia e essas coisas. Eu vou fazer as performances de Spring, todas que tiverem, em um tom mais intimista e com mais contato com o público. Acredito que a música, de alguma forma, pede isso.
Inclusive você, recentemente, tem usado seu ativismo em prol de pessoas que tem depressão, não é mesmo? Dando palestras e tudo mais...
Sim, eu acredito que a realidade dos Estados Unidos em questão de doenças mentais ou qualquer tipo de doença não é favorável, nós necessitamos de um sistema de saúde público que não negligencie pessoas que tem doenças mentais ou qualquer tipo de doença, que não as impeçam de conseguirem seus remédios. Eu, por exemplo, tenho dinheiro para pagar o meu tratamento para depressão e ansiedade, mas eu fico pensando... E se fosse a garota de cinco anos atrás, que não tinha dinheiro para se alimentar direito? Eu precisava de tratamento tanto naquela época quanto eu preciso hoje. Não podia ter apenas pelo fato de não ter dinheiro no bolso para gastar com despesas médicas, e assim, os Estados Unidos fazem uma verdadeira limpeza populacional nas pessoas que tem origem mais pobre.
Olha só para os casos de COVID-19, os Estados Unidos tem enfrentado essa pandemia de uma maneira tão horrível que em pouco tempo que a doença está aqui, nós já superamos a Itália, que já vinha há tempos em quarentena. Nós amamos nos gabar de sermos o país mais desenvolvido do mundo, mas nós não conseguimos conter nem uma doença por conta do sistema de saúde extremamente falho. Nesses momentos, eu fico pensando que os Estados Unidos não é e nunca foi esse paraíso e esses heróis que nós vemos na televisão, na verdade, é quase o oposto disso.
E como funciona o trabalho dessas ONGs que você financia?
Eu, com uma parte do meu dinheiro, financio remédios, psicólogos e psiquiatras para pessoas carentes que não tem condições de pagar. Uma parte dos lucros do Behind The Sun vão para essas instituições, já que o álbum fala exatamente sobre a depressão e suas consequências. Eu acredito que é assim que nós fazemos um país melhor, cada um fazendo sua parte e dando apoio ao próximo sem pedir nada em troca. Nem mesmo auto promoção eu espero porque eu quase nunca falo disso na mídia, mas enfim.
Como você acha que vai ser o desempenho de seu single Blood essa semana, já que sábado já saem charts novos?
Eu sinceramente não sei o que esperar, mas pode ser que eu consiga o primeiro lugar ou o segundo. Mas mesmo se eu não conseguir, eu nunca pensei que chegaria a uma terceira posição, já é um marco para mim. Mas, se pegar a primeira posição, eu já comecei a pensar no meu próximo single e já até sei qual que vai ser.
Posições nos charts nessa era acabaram se tornando uma coisa importante com o passar do tempo, não é mesmo?
Sim, eu percebi que eu não preciso ser uma pessoa que odeia charts ou uma pessoa que odeia crítica, eu posso ser uma pessoa que aceita os dois e que se esforça para fazer os dois darem certo. Óbvio que eu não vou me tornar uma obcecada por charts que quer o primeiro a qualquer custo e não importa mais nada, mas também não vou ser a pessoa que vai se importar tanto com o fato de que a nota da crítica foi tão alta. Na verdade, eu até acho que a nota do MADEINCHINA devia ter sido menor, eu realmente não gosto muito daquele álbum e não acho que ele deveria passar da nota setenta e cinco, se fosse eu avaliando o MADEINCHINA eu daria setenta e três ou setenta e quatro, por aí, mas eu não controlo a opinião da crítica né.
Como foi finalmente sair da era MADEINCHINA e perceber que o padrão de coisas que estava vindo na Behind The Sun era maior?
Foi ótimo, a era Behind The Sun para mim, superou o MADEINCHINA em tudo. Até no quesito de ser o meu álbum preferido, o álbum que tem as melhores posições nos charts, o álbum que teve a maior nota da minha carreira, a maior estreia, na verdade, em duas semanas o Behind The Sun já havia vendido mais que a era MADEINCHINA tinha vendido após três meses de lançamento. A era Behind The Sun foi maior do que tudo que eu pudesse planejar, eu acho que eu atingi meu auge aqui e agora.
Você está ansiosa para o lançamento do quarto single de seu álbum? Aliás, já é o quarto single e você nem tem previsão de acabar a era, não é?
Exatamente. Para mim, um álbum que você goste é algo assim, que você lança os singles e nem percebe que já está para lançar o quarto single, de tão natural que as coisas têm ido. Eu nunca estive tão relaxada em questão a um álbum, já vai fazer um mês desde o lançamento do mesmo e eu ainda não enjoei, não teve um momento sequer onde eu pensei em largar a era. Em outras eras isso acontecia basicamente dois dias depois, era bem passageiro o hype que o álbum trazia.
Quem são seus artistas favoritos no momento?
Eu sou meio suspeita para falar, porque tudo mundo sabe que eu estou em uma fase musical mais rockeira e estou ouvindo muito mais rock do que qualquer outra coisa, mas minhas artistas preferidas eu acho que são a Agatha, a Banshee, o Shadows Of The Night, o SUPERNOVA e até mesmo a Harley Nox, que é uma artista ótima que lançou um álbum recentemente. Eu amo esses de coração, o som deles me agrada demais. Mas eu também não posso deixar de dizer que o trabalho da Williams é outro que me agrada bastante, é talento puro. Enfim, acho que são esses os meus preferidos, óbvio que todos os outros artistas têm trabalhos magníficos, mas... Eu tive que escolher, não é mesmo?
Essa Plastique metaleira, sempre existiu dentro de você ou é algo do momento?
Não foi sempre que ela existiu, mas também ela não apareceu agora, ela existe mais ou menos desde a época que eu conheci a Dark Bae. Mas desde o início da carreira, eu sempre tive paixão pelo metal, mas também sempre tive paixão pela estética futurista e um pouco cyberpunk, então eu optei pela PC Music para iniciar, e depois eu fui para o metal. Foi como eu mostrar os dois lados que existem dentro de mim, tanto na transição de cantora pop futurista para metaleira, quanto na de militante para alguém que também é sentimental.
Quais são as suas considerações finais para finalizar essa entrevista?
Bom, ok. Eu falei muita coisa nessa entrevista, sobre depressão e sobre saúde mental, e espero que meus fãs ou qualquer pessoa que estiver lendo e que se sinta sozinho por algum motivo, eu quero que saiba que você vai superar isso não importa como. Não desista de você, tenha paciência consigo mesmo, porque como eu mesma sempre digo, “a primavera sempre vai estar aqui por você”. Então, fique forte que essa onda ruim, um dia, irá acabar, e você vai viver o que tanto merece. O telefone da ONG que eu patrocino vai estar aqui embaixo para quem quiser fazer uma doação, de qualquer valor que seja. Então é esse meu recado e vou ficando por aqui.