Post by andrewschaefer on Jun 3, 2020 2:53:12 GMT -3
Para divulgar o seu mais recente álbum de estúdio, Violence, e o single Blasphemy, além da faixa Salem, presente no disco, a cantora e compositora romena Agatha Melina participou por vídeo chamada de uma entrevista no programa de televisão estadunidense The Tonight Show starring Jimmy Fallon, apresentado pelo conhecidíssimo apresentador e comediante Jimmy Fallon. Durante a entrevista, Agatha comentou faixa a faixa sobre o seu novo álbum e ainda rebateu algumas críticas que recebeu. A cantora aproveitou para conversar sobre outros assuntos diversos com Jimmy como lançamentos de outras cantoras e o que faria daquele momento em diante na sua carreira. Agatha finalizou a entrevista fazendo uma performance, da sua casa, de Blasphemy, o single que está divulgando atualmente.
Jimmy: Por causa do distanciamento social, não pudemos recebe-la pessoalmente, mas ficamos imensamente felizes de poder tê-la em nosso programa, mesmo que seja apenas por vídeo chamada. Ela é a grande cantora, dona do hit Regret que ficou em duas semanas na primeira posição das músicas mais ouvidas mundialmente e agora mantém o seu status de hit no top 3. É dela mesmo que estamos falando, Agatha Melina! Oi, Agatha, tudo bem? Consegue me ouvir bem?
Agatha: Oi, Jimmy! Estou bem, sim. E sim, eu consigo te ouvir. Você consegue me ouvir ou está apresentando alguma falha aí? Sou um pouco inexperiente com vídeo chamadas, nunca gostei de coisas desse tipo mas agora estou tendo que me adaptar, haha.
Jimmy: Consigo te ouvir em alto e bom som, não se preocupe! Mas e aí, garota? Como tá esse isolamento social?
Agatha: Não vou mentir, é complicado. Eu nunca fui uma pessoa de sair muito de casa, então no começo nem estava me afetando tanto, mas eu confesso que atingiu um ponto em que eu estou realmente me sentindo angustiada por tudo isso. Eu nunca quis tanto ter contato com outras pessoas, socializar... Ai, é mesmo muito difícil tudo isso, mas é um sacrifício que temos que fazer, Jimmy... E para você, como está?
Jimmy: Eu ainda tenho que vir aqui ao estúdio conversar com os convidados, mas não tem plateia e a equipe está reduzida, então apesar de ainda ter algum contato social, me sinto bem mais solitário do que costumava. Ao menos vejo que você está respeitando fielmente a quarentena, não?
Agatha: Ah, com certeza. Eu não sou do tipo irresponsável. Tenho consciência de que esse vírus só irá embora assim que todos entendermos sua periculosidade e ficarmos em casa. Inclusive peço para todos: fiquem em casa! Isso é muito importante, pessoal!
Jimmy: Você está em Londres nesse momento, não é?
Agatha; Sim, sim, estou em Londres agora.
Jimmy: Como está a situação com o vírus aí? Ainda está muito preocupante?
Agatha: Olha. Jimmy, eu digo que eu estava realmente preocupada algum tempo atrás porque a Europa era o epicentro do vírus, mas agora a curva de contaminação está diminuindo e tenho esperança de que em breve isso tudo vai acabar. A situação já está se normalizando aos poucos. Mas só um lembrete de que isso não é nem um passe livre para já sair de casa e fazer festa com os amigos, precisamos esperar isso passar totalmente se não quisermos que volte com tudo. Tomem cuidado!
Jimmy: Aqui nos Estados Unidos a situação também já está se normalizando, felizmente. Mas ainda temos muito chão para andar até que a pandemia realmente se encerre. Agora o novo epicentro é a América do Sul. Você anda acompanhando as notícias do Brasil?
Agatha: Sim, é realmente muito triste. Está prestes a se tornar o país com mais casos no mundo, não é? E o mais preocupante é que o presidente simplesmente ignora tudo isso, vi alguns vídeos que estão saindo e é assustador como ele pensa em benefício próprio num momento desses. Ele e os ministros, é claro, horripilante!
Jimmy: Vários ministros do governo já estão abandonando o barco em meio a toda essa confusão, o Brasil está um verdadeiro caos!
Agatha: Eu fico preocupada porque tenho um monte de fãs que são de lá e eu ainda não tive a oportunidade de fazer um show no Brasil, e eu gostaria muito. Fico triste caso algum deles venha a morrer com isso tudo e nunca possa ver um show meu, é um estado de calamidade que dá pena, Jimmy. Me corta o coração pensar nessas coisas...
Jimmy: Você tocou num ponto interessante, aliás. Shows! Se você tinha uma turnê planejada par ao Violence, já está cancelada, não é? Com toda essa situação, não dá para fazer nada.
Agatha: É, eu não cheguei a planejar uma turnê porque o vírus veio muito cedo, mas eu com certeza planejaria. O vírus acabou com os meus planos antes mesmo de eu tê-los feito, haha.
Jimmy: Você pretende fazer algum outro método de divulgação para o Violence enquanto enfrentamos essa crise de saúde pública?
Agatha: Eu ainda estou me preparando na verdade, Jimmy. Quero começar a fazer lives. Estou vendo que muitos artistas estão fazendo, então estou pensando em aderir. É uma boa ideia, não é?
Jimmy: Sem sombra de dúvidas, eu adoro acompanhar lives dos meus artistas favoritos e eu com certeza acompanharia a sua.
Agatha: Bem, obrigada, eu vou fazer uma e conto com a sua presença lá, então! Haha! Tá combinado?
Jimmy: Mais do que combinado, já está certo!
Agatha: Ótimo, eu te mando o dia e horário depois.
Jimmy: Agatha, já que estamos aqui falando do seu álbum, Violence. Eu gostaria de me aprofundar nisso, pode ser?
Agatha: Ah, fique à vontade. Estou aberta a responder suas perguntas.
Jimmy: O Violence foi o seu segundo álbum de estúdio, lançado no mês de maio. Tendo em vista que o seu primeiro álbum, o Chaos, saiu em dezembro, você não acha que o período foi muito curto de um lançamento para outro? Apenas seis meses, não é?
Agatha: Bem, sim e não. Acho que o meu maior problema é que eu demoro para lançar os meus álbuns. O Chaos já estava pronto há meses e meses quando eu o lancei em dezembro e se você quer ter uma noção, eu comecei a compor para o Violence em novembro, antes mesmo do Chaos ter sido lançado. Eu poderia ter me organizado melhor e lançado o Chaos antes e assim ficaria mais livre para trabalhar o Violence depois, visto que eu finalizei todas as composições para o Violence ainda em janeiro, mas neste período, eu estava em turnê. Eu queria dar mais a devida atenção ao Violence porque foi um álbum que eu gostei muito quando escrevi e continuei gostando nas próximas semanas em que ia o ouvindo, mas eu cheguei a um ponto em que eu simplesmente passei a detestar o álbum. Isso acontece muito frequentemente comigo. Eu odeio o Chaos hoje em dia, mas quando eu o lancei, eu ainda não o odiava tanto, eu passei a o odiar assim que lancei Volcanic como single, ou seja, somente duas semanas após o lançamento do álbum. Eu tenho essa característica de que gosto das coisas que faço por um curto período de tempo. E, como eu falei previamente, e o Violence já estava pronto desde janeiro e isso foi tempo mais do que o suficiente para eu ouvi-lo, reouvi-lo, modifica-lo, fazer ajustes, reescrevê-lo, reproduzi-lo e finalmente ter enjoado. É, chegou esse momento em que eu simplesmente não conseguia mais olhar para a cara do Violence, estava completamente saturada daquele álbum, não o suportava mais. Mas aí o grande problema: eu não tinha lançado ainda. E Regret já estava como single e hitando bastante. Eu decidi então que não queria descartar o Violence, pois se as pessoas tinham gostado do single, provavelmente gostariam do resto do álbum também, então lancei. Mas por lancei por lançar porque te digo, continuo detestando ele do fundo do meu coração, eu juro que odeio o Violence.
Jimmy: Você lançou por lançar? Então não se importa com o debut tão fraco que teve? Muitas pessoas ficaram fazendo piadas com isso nas redes sociais, sobre o debut do Violence.
Agatha: É, eu vi, eu tenho redes sociais. Bem, eu não tô nem aí, sabe? Se o Violence vendeu cento e quarenta mil cópias eu sei que foi de cento e quarenta mil fãs. Eu acho isso bem mais genuíno do que você ter um debut alto com várias pessoas que dizem serem seus fãs só porque você fica na mesmice. Eu disse desde o início da minha carreira que não estava aqui para agradar ninguém, que estava para lançar o que eu gosto e o que eu bem entender. Eu disse que ia transitar entre gêneros, explorar coisas novas, pois eu sou desse tipo. Qual é, sou uma geminiana, querer que fiquemos num monólogo é simplesmente ridículo, eu sou inovadora e gosto inovar e trazer ideias. Na minha opinião, um fã não é aquele que te acompanha enquanto você dá o que ele quer. É aquele que te acompanha enquanto vê que você está feliz fazendo o que está fazendo. Fã não é aquele que porque você mudou de gênero musical vai te ignorar e dizer que a sua música é ruim, é aquele que vai dar uma chance pois gosta do seu estilo, da sua voz, da sua pessoa. Isso que é ser um fã, querer que um artista fique preso a uma imagem não é gostar dele, é gostar de um personagem pois eu te digo com toda sinceridade: todo mundo muda. É como aquela história: um homem não toma banho num mesmo rio duas vezes pois na segunda vez, o homem já não é o mesmo e o rio também não é mais o mesmo. As coisas são líquidas e estão constantemente fluindo e mudando, é incabível esperar que um artista continue atendendo aos moldes que você gosta e aos moldes que você quer. Eu tenho consciência disso e por isso já deixei bem claro desde o início que eu sou esse tipo de pessoa: que faria o que eu quero. Ouve uma imensa reduzida do debut do Chaos para o debut do Violence? É, com certeza houve. Mas como eu disse, não me importo. Eu me importo com as cento e quarenta mil pessoas, com meus cento quarenta mil fãs que compraram o disco.
Jimmy: Nossa, que discurso! Então é isso que você diz para as pessoas que debocharam da quantidade de cópias vendidas? Meu Deus, que lenda, pessoal, que rainha! Palmas para Agatha!
Agatha: Haha, pare com isso. Não mereço aplausos por ter sido sincera, verdadeira e acima de tudo, eu mesma. Isso é obrigação de qualquer ser humano. Agora se alguém tenta se comportar como uma Barbie pra agradar adolescente de quinze anos, já não é comigo...
Jimmy: Por que eu senti que você mandou essa indireta para alguém?
Agatha: Está delirando, haha. Eu não mando indiretas para ninguém em específico, nunca! Eu apenas falo as coisas e se a carapuça servir... Bem, serviu. Cada um sabe o que faz e se sentiu atacado ou ofendido é porque sabe muito bem que está se comportando como eu descrevi e aí o problema vai ser inteiramente da pessoa, não meu. Por isso estou tranquila aqui em dizer o que eu penso e o que eu bem entender. Porque simplesmente não é problema meu, haha! Adorando essa entrevista!
Jimmy: Eu quem o diga! Você tá afiada hoje, hein, garota?
Agatha: Você não viu nada, Jimmy. Ai, ai...
Jimmy: Aliás, você viu que saiu a nota do Violence no Metacritic? Você chegou a dar uma olhada lá?
Agatha: Ah, sim. Eu li todas as críticas como faço habitualmente com todo projeto meu que é avaliado por eles.
Jimmy: E tem alguma coisa que você gostaria de dizer para os críticos? O que você achou da nota e das críticas?
Agatha: Eu achei bastante alta. Alguns meses atrás eu poderia jurar que seria um álbum com uma nota maior que 80, mas não foi. E hoje eu entendo isso perfeitamente, pois é um álbum um tanto quanto... meh. Se eu fosse um dos críticos, sinceramente minha nota não passaria de 75. Não é mesmo um álbum tão bom, então eu achei a nota muito justa.
Jimmy: Eu vou ser obrigado a discordar pois o disco é genial, Agatha. Mas a nota já foi dada e não tem como mudar agora, então nem adianta continuar falando sobre isso. O que você achou das críticas?
Agatha: Ah, eu achei todas bastante justas também. Cada uma apresentou uma visão, mas que seguiu uma mesma linha de raciocínio. Eu vou ter que concordar que eu ainda não alcancei todo o meu potencial e eu sinceramente não sei quando vou alcançar, muito menos se vou alcançar. Acredito que às vezes há uma cobrança muito grande por parte das pessoas acerca do Metacritic, e apesar de eu gostar bastante, não vejo como algo tão grandioso. São apenas pessoas dando as suas opiniões sobre um álbum. São críticos que sabem o que estão falando, que sabem analisar detalhes técnicos, mas ainda são pessoas dando as suas opiniões e eu respeito bastante o direito de cada um ter a sua opinião formada a respeito de determinados temas, então o que eu procuro nas críticas quando leio é sinceridade. Felizmente nunca encontrei nenhuma inverdade que pudesse denunciar uma pessoa que não ouviu direito ou deu pouca atenção, então por enquanto eu não me importo. O que eu não aceito é criticarem um álbum sem saber o que é o álbum. Para mim, todo álbum precisa ser estudado e analisado cautelosamente. Às vezes eu acho que o que a gente gosta ou não é irrelevante, que devemos ver se a proposta foi ou não cumprida. Eu detesto o Violence, mas a proposta foi cumprida. Por isso eu não daria uma nota amarela ou pior, mas também não daria mais de 75 por diversas outras questõezinhas minuciosas que me dariam um trabalhão para explicar se eu tivesse que fazer isso.
Jimmy: Então o que você está dizendo basicamente é que não se importa se as críticas forem negativas desde que sejam verdadeiras?
Agatha: E desde que apresentem críticas construtivas também. Eu acho que quando você vai julgar algo, a principal coisa que você deve fazer é citar os pontos em que pode melhorar e se possível como melhorar. Porque se tá bom ou ruim, todo mundo fala. Mas se está sendo avaliado por críticos profissionais, é o mínimo que se espera além de sinceridade.
Jimmy: Nós percebemos também uma evolução desde o Chaos. A nota subiu de 76 para 79. Acredita que em materiais futuros a nota possa ultrapassar os tão desejados 80 ou acha que continuará batendo na trave?
Agatha: Haha, eu não diria exatamente que é bater na trave, Jimmy. A nota é só um número. O que realmente importa são as críticas, que foram muito boas e eu agradeço imensamente aos críticos por terem tirado um tempo para apreciar de verdade o Violence. Pode ser que em um futuro álbum, eu consiga uma nota maior que 80, mas por enquanto eu posso assegurar que estou contente com o que recebi e não vou reclamar.
Jimmy: De qualquer forma, quando você pretende lançar um outro álbum? Isto é, você já está trabalhando em um terceiro álbum de estúdio? Como é? Conta aí pra gente. Porque sabemos que o Violence veio seis meses após o Chaos. Um terceiro álbum viria seis meses após também?
Agatha: Olha, eu ainda não posso dizer com certeza quando vai sair um próximo álbum. Eu acabei ficando um pouco saturada de fazer música e estou tomando um tempo para refletir e me reencontrar. Quero saber o que eu realmente quero fazer. Mas respondendo à sua pergunta, sim, eu já comecei a trabalhar em um terceiro álbum de estúdio e tenho várias músicas escritas, apesar de eu ter certeza de que vou descartar a maior parte porque são muito pessoais e tem uma pessoa em específico nesse planeta Terra que eu gostaria que não lesse essas letras porque a situação seria muito embaraçosa. Mas quem sabe daqui até lá eu resolva simplesmente não me importar com isso também e lance essas músicas, não é? Está tudo muito incerto por agora, ainda tenho um longo caminho pela frente. Mas vocês podem ir ouvindo o Violence mesmo, gente, enquanto não sai nada novo.
Jimmy: Com certeza, não sai dos meus ouvidos! Mas pelo menos uma coisa você pode nos contar? Só uma coisa!
Agatha: Hum... O que você quer saber? Talvez eu possa.
Jimmy: Nós teremos outra mudança radical de gênero musical no seu terceiro álbum de estúdio? Sabe, eu acho interessante ver você como uma cantora versátil, volátil, e o mais importante: imprevisível. Eu realmente estou curioso para saber se você vai continuar com essa linha no futuro, com esse de ar de mistério que nunca sabemos o que podemos encontrar.
Agatha: Foi uma ótima pergunta, na verdade. Muito obrigada por tê-la feito. Mais uma vez, é algo que venho repetindo desde o início da minha carreira. Eu não vou ficar presa a um gênero musical. Quando eu estava trabalhando com o Chaos, eu estava em uma fase em que ouvia muito trap e isso acabou se espelhando em muitas faixas, mas o interessante é que eu também misturei diversos outros gêneros ali como o rock e o metal. Eu quis testar os meus limites e explorar e consegui fazer isso muito bem. Acabei gostando mais do rock e do metal, os quais decidi me aprofundar ainda mais no Violence. Mas então, o que esperar agora, não é mesmo? Mais trap? Mais rock? Ou algo totalmente inusitado que vocês nunca pensaram que eu faria? Me diga você, Jimmy, qual você acha que faz o estilo da Agatha Melina?
Jimmy: Ok, isso foi bastante esclarecedor e até intimidador para falar a verdade, se quiser saber. E eu acho que já tenho a minha resposta, não é? A Agatha vai chegar com uma surpresa mais uma vez e eu mal posso esperar para saber qual é.
Agatha: Eu prometo que vai valer a pena.
Jimmy: Tendo isso dito, acho que podemos passar para a minha parte favorita do programa. Eu estava aqui esperando que você comentasse um pouco sobre as faixas do Violence pra gente. Eu queria que você falasse de cada faixa individualmente para aprofundarmos ainda mais nesse seu projeto. Digo, eu sei que agora você detesta o álbum, mas ainda sente vontade de falar sobre ele, de explica-lo, não é? É o seu jeito.
Agatha: Sim, você já me conhece muito bem e eu confesso que estou muito animada para explicar cada mínimo detalhe em cada faixa no Violence. Não importa o quanto eu odeie um álbum meu, eu sempre vou gostar de falar sobre ele. Sempre. A não ser, é claro, que este álbum tenha sido uma das escórias que eu descartei no passado porque as letras refletiam minha total imaturidade em relação a mim mesma e a como as coisas funcionavam no mundo. Falando disso, lembro até de uma música que eu odeio chamada Uncertain Future que com certeza foi a pior coisa que eu já escrevi na minha vida, eu era tão imatura e nem sabia. Eu sinto vergonha só de lembrar da letra e felizmente ela nunca vai vir a público porque é horrível mesmo, dá pena, dá desgosto... Ai! Como eu fui capaz de escrever aquilo?
Jimmy: Do jeito que você fala eu fico ainda mais curioso para saber do que era essa faixa, mas se te conheço bem, você não vai falar absolutamente nada sobre isso, não é, Agatha?
Agatha: Aparentemente você não me conhece tão bem quanto pensa que me conhece pois eu vou falar em detalhes sobre essa faixa Uncertain Future. Eu basicamente a escrevi com dezesseis anos quando ainda morava na Romênia e era uma daquelas músicas típicas de adolescentes rebeldes que não se contentam com nada do que tem e odeiam os pais. E a pior parte de tudo isso é que eu escrevi essa música com muita alma na época, mas hoje eu olho para ela e nem me passa pela cabeça de que eu fui capaz de escrever algo grotesco naquele nível, simplesmente horrível. Eu era uma garota completamente imatura que não entendia situações e queria tudo do meu jeito. Eu confesso que fui um pouco mimada durante a minha infância, então isso contribuiu bastante para essa personalidade formada durante a adolescência. Eu sei, vergonhoso, me desculpem, mas se tem uma coisa que eu adoro fazer é destruir a minha imagem e graça sem me preocupar com as consequências, então foi este o resumo completo para vocês do que é essa tão horrenda música chamada Uncertain Future.
Jimmy: É, afinal de contas, eu não te conheço tão bem. Mas ainda estou chocado com você falando tudo isso para todos mesmo após ter dito que não falaria. Não quer que cortemos isso na edição final do programa? Quer mesmo que todos saibam sobre isso?
Agatha: Eu já falei que não tenho problemas em destruir minha imagem, pra mim é um esporte, um hobby.
Jimmy: É, parando para pensar melhor, isso é mais a sua cara do que não ter falado nada sobre a música.
Agatha: Não esqueça o meu signo, eu falo demais, falo até o que não devo sobre os outros e sobre mim mesma sem me importar. Esta sou eu. E, sendo sincera, até gosto de ser assim. Quem souber lidar, fica; quem não souber, vaza o quanto antes que é melhor.
Jimmy: Ok, ok! Mas chega de enrolação, Agatha! Eu realmente quero ver você falando sobre as faixas do Violence! Podemos fazer isso?
Agatha: Claro. Desculpe desviar o assunto, haha. Não foi intencional.
Jimmy: A primeira faixa é a faixa-título. Violence! Nos conte sobre ela.
Agatha: Ok, Violence foi a primeira música que eu escrevi para o álbum, mais especificamente no dia treze de novembro de dois mil e dezenove. Eu lembro bem dessa data porque também aconteceu algo importante para mim neste dia. Bem, basicamente eu estava com essa rima na cabeça “They use violence to get diamonds” e eu estava louca para colocar isso em prática, mas ainda achava muito difícil pois aquela definitivamente não era a vibe em que eu estava no momento. Até que um dia, como eu disse, no dia treze, eu estava extremamente inspirada após uma coisa ótima ter acontecido na minha vida, haha, e então sentei em frente ao meu computador e deixei as palavras fluírem pelas teclas. Eu confesso que foi bastante difícil encontrar as rimas certas para algumas das palavras, mas eu acredito que eu tenha executado esta tarefa de maneira exemplar, visto que algumas rimas são mesmo bastante peculiares e estranhas, como no verse 02. Enfim, cada verso daquela música foi milimetricamente pensado e eu poderia explicar detalhadamente o que cada verso quer dizer se eu não estivesse morrendo de preguiça de fazer isso, e também se não fossem tantos versos.
Jimmy: Você não faria nem se eu pedisse por favor?
Agatha: Nesse caso eu poderia pensar, Jimmy...
Jimmy: Então por favor, explica a música verso por verso1
Agatha: Tá bom, haha, você venceu. Primeiro eu digo que usam a violência para obter diamantes, os diamantes aos quais me refiro são obviamente no sentido monetário. Basicamente eu quis dizer que eles usam a violência para ganhar dinheiro, mas essa violência não é física, é a violência com o nosso meio ambiente, conforme eu vou explicando no decorrer da música. Eu continuo dizendo que eles pedem por silêncio em nome da ciência, isso porque sempre tem aquelas desculpas de que fazem as coisas para avançarmos cientificamente, mas isso é tudo uma fachada para a verdadeira razão pela qual destroem o nosso planeta: eles querem diamantes, eles querem dinheiro e nada mais os interessa. Soe as sirenes, alerta vermelha. Faça as alianças para afundar ilhas, isso é uma referência ao aquecimento global e elevação do nível do mar graças ao degelo. Várias ilhas ao redor do mundo estão ameaçadas de simplesmente afundarem nos próximos cinquenta anos, isto porque as geleiras dos polos irão derreter tanto, que o mar vai ficar mais volumoso e as praias serão invadidas pela água. Por fim, eles não ligam para o clima. É como eu disse, eles não se importam com nada a não ser com lucrar e com ganhar dinheiro em cima dessa violência ambiental.
Jimmy: É, podemos ver bastante força nessa música.
Agatha: Vomitando plástico nos oceanos. Aqui eu sou bem direta, nem preciso explicar o que quer dizer porque estou literalmente falando sobre os seres humanos que jogam resíduos plásticos no mar e poluem nossos oceanos, matando várias tartarugas e animais marinhos todos os anos. Canudos de ferro em promoção, haha. Isso na verdade é uma crítica aos canudinhos de metal porque as pessoas deixam de consumir canudos de plástico como se fossem salvadoras, como se toda a poluição no mar tivesse reduzido drasticamente por causa disso, mas na verdade não, a poluição continua pois continuamos usando diversos materiais de plástico e os descartando todos os dias corriqueiramente. A implicância com o canudo é porque há um tempo viralizou o vídeo de uma tartaruga com um canudo preso na narina e tiverem que tirar com uma pinça e estava sangrando muito. É um vídeo horrível mesmo e nos faz pensar muito sobre o que jogamos nos nossos oceanos, mas os canudos são apenas uma porcentagem minúscula dos resíduos plásticos que são despejados no mar, então literalmente você não está contribuindo em nada por usar um canudinho de ferro, minha querida instagrammer, desculpe. Vomitando petróleo, sem noção, assassinando seres sem comoção. Aqui, além da crítica à exploração de petróleo, eu também falo os diversos acidentes no mar ocasionados por isso e isso mata mesmo diversas vidas pois o petróleo impede a luz solar de chegar às profundezas do mar, então todas os seres vivos que estão naquele lugar simplesmente morrem porque somos todos dependentes do Sol. Para onde foi toda a sua devoção? Você perdeu como suas emoções? É, já aqui é mais uma crítica às pessoas que dizem ser devotas, que amam o próximo mas não dão a mínima para o bem estar dos demais seres vivos e do nosso próprio planeta e uma pessoa que não liga para a própria casa e para os próprios companheiros de quarto assim por se dizer, claramente já perdeu as suas emoções há um bom tempo. Vidas em frente aos seus olhos desaparecendo em câmera lenta, como você fez com eles, pegue a garrafa de veneno. O veneno obviamente é para representar todos os dejetos que jogamos nos mares, na atmosfera, no solo, e que estão envenenando o nosso planeta e os seres que o habitam. Então, se você está envenenando a todo mundo, envenene-se também, essa é a dica da Agatha Melina para aqueles que não se importam com o meio ambiente.
Jimmy: Agora entendi porque o álbum se chama Violence.
Agatha: O refrão vai tipo: você quer dinheiro? Oh, querido, tão engraçado, você quer mais e mais, apenas. Eu continuo falando sobre as pessoas que só querem dinheiro. Sangue nas suas mãos, isso importa no final. Quando eu digo isso é porque uma hora ou outra tudo o que estamos fazendo terá consequências, na verdade já está tendo mas não estamos percebendo isso tão claramente quanto iremos no futuro. Eu cito o tsunami, terremoto e furacão como alguns desastres naturais que são um modo de defesa da Terra. E termino dizendo para a cara pessoa que ouve a música e se sente ofendida: você é uma vergonha total.
Jimmy: O que eu gosto nessa música é que ela se chama Violence, mas o instrumental é tão calmo e melódico, haha. Foi um ótimo contraste, deu um ar triste a um problema sério e acho que foi uma ótima escolha, Agatha.
Agatha: É, porque não sou eu que estou praticando a violência, então não tem porque ter um instrumental violento, é para ser algo realmente triste porque é mesmo triste, não dá pra negar.
Jimmy: Sim, por isso digo que você trabalhou nisso com maestria.
Agatha: Rolando em uma esteira industrial, uma crítica às indústrias e suas chaminés que poluem nossa atmosfera e destroem a nossa camada de ozônio como canto em seguida. Se é um jogo, somos todos jogadores. Deus Ex Machina, nosso salvador. Aliás, perdi.
Jimmy: Droga, Agatha! O jogo! Perdi.
Agatha: Deus Ex Machina para quem não sabe é uma estratégia literária em que um personagem, um acontecimento ou um objeto resolve todas os problemas dos personagens magicamente, quase como uma intervenção divina, daí vem o nome. Aquele tipo de problema em que estamos encurralados e parece que não há nada para fazer, mas surge algo do nada para nos salvar. Escolhi usar esse termo porque do jeito que as coisas estão, só um Deus Ex Machina para nos salvar mesmo. De joelhos, faça suas orações. Chaminé, cinzas, nuvens cinzas, hey up. Intoxicando nossos pulmões, traidores. Não culpe o seu prefeito. Esses versos são interessantes porque sempre tem aquelas pessoas que querem fugir da culpa e jogá-la nos políticos que não fazem nada para o meio ambiente, mas eles só são tão culpados quanto nós. Se não fazemos nada, também não podemos esperar que eles façam, não é? Em seguida canto que o oxigênio está acabando, poluição do ar. Poluição, nós estão respirando. As estrelas agora estão escondidas, graças à poluição da atmosfera. Você não consegue ouvir? Para aquelas pessoas que se fazem de surdas diante de tudo o que está acontecendo com o nosso mundo. Aquecimento global matando, o apocalipse não está distante. Se isso é o que você está desejando, você vai ter, sua megera. Não preciso explicar isso, né? Jimmy, estou ficando cansada.
Jimmy: Calma, você já está quase acabando. Vamos lá!
Agatha: Ok. Por fim, o bridge. Nosso ecossistema quebrou, tartarugas no mar engasgam. Agora o gigante acordou, tossindo por causa da sua fumaça. É isso, caras. É um resumo de tudo o que aconteceu na música, basicamente. Todas as palavras que você falou, todos os demônios que você invoca, você acha que é só uma piada? Bebendo coca cancerígena. Haha, eu odeio coca-cola, então eu não pude deixar de me manifestar contra aqui. Além disso, é difícil achar oito rimas para -oke.
Jimmy: Pelo que eu pude perceber, a sua música fala de maneira geral sobre tudo o que vai ser abordado durante o álbum, não é? Religião, política, meio ambiente, todo esse lado ativista da Agatha que ainda não conhecíamos e agora temos a oportunidade de conhecer com um belíssimo adiantamento, uma espécie de teaser logo na primeira faixa, que também leva o nome do álbum. Eu gosto disso porque você resume o álbum em seu nome e em sua faixa-título e isso o deixa ainda mais original e genuíno, por isso é tão incrível, Agatha, você está de parabéns.
Agatha: Não acredito que seja para tanto, mas obrigada, haha.
Jimmy: Agora nos fale sobre a próxima faixa, que na verdade é o grande single Regret, que tá hitando muito, né?
Agatha: Ah, sim, eu fico muito feliz com a recepção positiva de Regret nos charts, a música teve um ótimo debut na segunda posição, então ocupou a primeira posição duas semanas seguidas e agora já está a duas semanas na terceira posição, se mantendo estável.
Jimmy: É um feito incrível. Cinco semanas sem sair do Top 3! Como você se sente por ter feito essa proeza?
Agatha: Como eu disse, eu fico feliz, mas além disso, eu fico... Como é a palavra? Satisfeita. Eu acho que a mensagem que eu venho trazendo em Regret é muito importante e ver que a música teve todo esse reconhecimento me dá uma enorme sensação de satisfação, como se eu tivesse cumprido uma missão, você me entende? Além de tudo isso, é bom lembrar que a música ainda foi considerada a Best New Track pela Pitchfork na semana em que foi lançada, então a gente pode perceber que fez mesmo muito sucesso e como eu já explicitei, fico grata, feliz e profundamente satisfeita com toda essa recepção maravilhosa, muito obrigada a todos!
Jimmy: É mesmo incrível, Agatha! Aliás, você já falou sobre o significado da música pelo menos umas vinte vezes, mas gostaríamos de ouvir de novo para contextualizar, agora que estamos falando de todas as faixas do álbum, pode ser? Pode explicar pra gente?
Agatha: Bem, é claro. Em Regret eu continuo com o tema de meio ambiente que já havia sido introduzido em Violence. Aqui eu trago uma espécie de metáfora, comparando a mãe-natureza com uma mãe biológica e dizendo que minha mãe morreu, que eu estava órfã. Tudo isso para gerar uma certa sensibilidade em quem está ouvindo. A quebra de expectativa acontece quando eu falo que eu nunca pensei que a natureza podia morrer, mas os humanos a mataram. E nesse momento eu acredito que muita gente deve ter se sentindo confusa e perdida, eu quis causar essa sensação. Se você se sente mal pela morte de uma pessoa, porque não se sentiria pela morte da natureza? Isso tendo em vista que a natureza representa bilhões de vidas. Por que é mais fácil sentir compaixão por humanos? Se fosse uma música de militância ambiental qualquer ia passar despercebida com toda a certeza e é por isso que eu gosto tanto dessa música porque eu dei um jeito de trazer algo importante, prendendo a atenção de quem ouve.
Jimmy: Você foi genial, simplesmente perspicaz. Por que escolher essa música como lead single de seu segundo álbum de estúdio?
Agatha: Vou ser sincera: o lead single era para ser originalmente Violence porque eu achava a letra extremamente poderosa.
Jimmy: E é mesmo poderosa, não duvide.
Agatha: Sim, mas o instrumental não era tanto. Eu precisava causar esse impacto tanto na letra quanto no instrumental, e depois de muita análise eu decidi que Regret era a que melhor atendia aos meus requerimentos e a elegi como lead single. Digo, Violence seria um incrível lead single, mas eu acho o instrumental de Regret muito superior, além de que essa metáfora foi um ótimo jeito de abrir a era. Regret não faria tanto sentido simplesmente estando no álbum, sendo só mais uma faixa. Faz mais sentido sendo um single lançado antes do álbum, um lead single conforme eu pensei, para ser mais exata, haha. Acho que é só isso que tenho para falar.
Jimmy: Só isso é muita coisa! É uma das minhas faixas preferidas do Violence para ser sincero, mas agora vamos falar de outra que também é uma das minhas favoritas e inclusive foi elogiada por alguns críticos: a tão cheia de vitalidade Home! O que você tem a dizer sobre essa música?
Agatha: Home! Haha! Home foi escrita num período de surto. Não exatamente um surto, mas eu não tive inspiração nenhuma para escrever essa música, sabe? Foi do tipo “ah, não tenho nada para fazer, tô estressada, vou escrever e ver no que dá”. Após algumas modificações quando eu estava mais calma, claro, eu consegui fazer uma ótima música.
Jimmy: Eu concordo que é uma ótima música. Enquanto as duas anteriores pareciam amenizar tudo, trazendo até eufemismos como no caso de Regret, esta Home era bem mais direta e como o próprio nome do álbum sugere, violenta. Aqui o álbum começou a ficar violento de verdade, pelo que eu diria, ou estou enganado, Agatha Melina?
Agatha: Eu também diria que sim. Eu concordo que é uma música mais violenta que as duas anteriores, mas acho que essa violência só é entendida por causa dos vocais alterados, porque toda a letra soa mais como um pedido, como se eu estivesse clamando para as pessoas prestarem atenção para o que estava acontecendo com o mundo, abrirem seus olhos pois os animais e as árvores estão morrendo, nosso mundo está entrando em um colapso. Eu peço às pessoas que deem atenção à isso para que possamos dar um jeito, entende? Acredito que os vocais alterados tenham contribuído para mascarar esse pedido como uma ordem, não tinha pensado nisso antes de você falar, então eu já fiquei um pouquinho mais feliz e menos descontente com o álbum ao ser que passei essa impressão.
Jimmy: Consegue fazer músicas perfeitas mesmo sem intenção! Essa é a Agatha que eu conheço, haha! Inclusive, eu queria te perguntar sobre algo. No refrão você fala para as pessoas abrirem os olhos e verem as mentiras que querem que acreditemos. Que mentiras são essas?
Agatha: Para o contexto da música, você pode interpretar como sendo notícias falsas sobre o aquecimento global ser uma causa natural ou mesmo nem existir. E ok, eu sei que essas notícias só são compartilhadas em grupos de WhatsApp por senhores de sessenta ou mais anos de idade, mas elas ainda existem, não é? Entretanto, quando eu escrevi, eu já queria estar dando mais outra introduzida em um assunto que eu exploraria mais à frente no álbum como vocês que devem ter ouvido sabem. É mais sobre mentiras do governo, entende? Isso não é entendido ainda nessa música, mas em uma análise geral do disco, percebe-se isso facilmente.
Jimmy: A intertextualidade entre as faixas é fascinante, você conseguiu criar uma obra coesa e com uma ótima comunicação entre todas as músicas. Você as ouve e percebe que são do mesmo material, que são do mesmo trabalho. Eu acho que você se superou nesse álbum.
Agatha: Já podemos ir para a próxima faixa ou ainda tem alguma coisa que você tenha curiosidade em saber sobre Home?
Jimmy: Não, não. Vamos sim para a próxima faixa. A primeira interlude do álbum, Not Dead Yet. Eu gosto do medievalismo no instrumental e de como isso não parece desconexo com o metal gótico e sinfônico que já havia sido apresentado, eu acho isso incrível.
Agatha: É, e na verdade se você parar pra ver, tem mais desse metal gótico e sinfônico logo em seguida nas duas faixas seguintes, haha. É porque nesse ponto específico do álbum eu realmente quis explorar uma estética mais medievalista como você pode perceber nas letras das músicas subsequentes. Eu acredito que tenha sido uma ótima escolha pois combina bastante com todo o conceito que eu planejei ali.
Jimmy: Você pode nos explicar essa frase? “Não estamos mortos ainda”. O que ela quer dizer exatamente?
Agatha: Bem, após três faixas de militância ambiental, era hora de trocar de subtema, permanecendo no meu tema geral principal, como sempre. Como eu disse, a natureza pode estar morta, mas nós ainda não estamos. Ou seja, ainda há pelo que lutar. Talvez não pela natureza, mas por nós mesmos. Isso evidencia que a partir daqui eu vou trazer um aspecto mais social às letras, ao álbum como um todo. Interludes servem justamente para isso, separar atos. O primeiro ato eu acredito que tenha sido muito bem concluído com Violence, Regret e Home, mas como não dá pra manter a mesma fita pra sempre, interlude para irmos para o próximo ato, que vai ser social, trazer problemas sociais. Se você perceber, eu mesclo bem os dois temas, falo que o mundo está quente, mas os nossos corações estão frios, fazendo uma referência ao aquecimento global e aos problemas sociais que vou abordar em seguida. Eu acho uma interlude incrível, sendo sincera.
Jimmy: Sim, eu percebi como você usou elementos dos dois subtemas que estava explorando, apresentando uma fluidez impressionante. Eu diria que o seu álbum é líquido, mas como um elogio, isso porque podemos ver as nuances sutis de faixa para faixa, ligações. Não é algo sólido, dividido em blocos que o bloco do final não tem nada a ver com o bloco do início. Todas as faixas carregam resquícios umas das outras, seja antecipando-as ou retomando-as e eu acredito que esta é uma das maiores qualidades de coerência e coesão que um disco pode ter, por isso te parabenizo por ter feito isso com tanta maestria, Agatha.
Agatha: Obrigada, haha. Assim eu fico sem graça, Jimmy.
Jimmy: Nossa próxima música é Wonderland, que mantém a pegada medieval, e como você disse, traz o metal gótico e sinfônico que eu adoro. Nos conte um pouco mais sobre essa faixa, por favor.
Agatha: Claro. Bem, Wonderland é uma clara referência a Alice no País das Maravilhas, eu tenho que pronunciar como uma grande fã desse conto, assisti todas as adaptações para desenhos animados e live actions, então eu tenho bastante local de fala, haha. Na minha opinião, inclusive, Alice no País das Maravilhas surra O Mágico de Oz, mas isso não é assunto para agora. Eu fiz essa comparação da sociedade atual com um País das Maravilhas porque é como dizem que é. Passam sempre a propaganda de que o mundo é um ótimo lugar, respeitoso com todos e igualitário, mas não é e sabemos muito bem disso. É literalmente igual ao País das Maravilhas de Alice. O nome sugere um lugar maravilhoso, mas na verdade aquela terra esconde muitos problemas sociais, muito conflitos. Vemos que tudo é dominado pela Rainha Vermelha que é extremamente autoritária, para não dizer uma tirana, além da desigualdade social ser muito clara, percebemos isso com o personagem do Chapeleiro Maluco. Ah, Agatha, vai problematizar um conto infantil agora? Não, eu não estou problematizando, eu estou falando o que dá pra perceber, o que já foi entregue por quem escreveu, isso é uma análise. Enfim, o mundo atual é como um País das Maravilhas, falam que é um ótimo lugar, que a sociedade é extremamente respeitosa, mas isso não passa de velha propaganda enganosa e já estamos carecas de saber como as coisas realmente funcionam. A referência principal dessa música é esta.
Jimmy: Nunca havia pensado por esse lado para ser sincero. Eu trouxe até uns versos interessantes que eu gostaria que você explicasse mais pra gente porque eu acredito ser uma das músicas com a letra mais elaborada e bem pensada, então eu realmente queria entender algumas coisinhas, tudo bem se eu ir te perguntando e você respondendo?
Agatha: Claro, sem problemas. Pode falar.
Jimmy: O verso “Não uma mulher, tem um homem-maravilha”. Qual o real significado desse verso, Agatha?
Agatha: Achei que estava óbvio, haha. Eu fiz uma espécie de trocadilho com a Mulher-Maravilha, já que ela é sempre vista como uma figura de uma mulher poderosa, independente, uma típica imagem do feminismo. Nesse tal País das Maravilhas, não existe mulher assim, existe um homem. Isso porque as mulheres são silenciadas, rebaixadas, são os problemas dos quais eu estava falando que acontecem na nossa sociedade, o machismo e o sexismo. É o tema principal da música, na verdade.
Jimmy: “Ela não está mais usando uma corda mágica, parece que ela está usando uma capa da invisibilidade”. Pode nos explicar este verso?
Agatha: Ah, sim. A corda mágica é a corda da Mulher-Maravilha. Como não há mais Mulher-Maravilha, não há corda mágica. No lugar, há uma capa da invisibilidade. O que é fato, não é? Às vezes parece que as mulheres são invisíveis na sociedade, como se a nossa opinião não importasse, ou como se a nossa presença não valesse de nada.
Jimmy: “Quando é conveniente, você culpa as roupas, mas quando não é, você coloca a capa nela, engasgue”. E quanto a isso?
Agatha: Já é conhecido por todos que na maioria dos casos de estupros e abusos os homens tentam justificar os seus atos culpando as roupas que a mulher estava usando. Capas também são peças de roupa, não é? E aí, como fica? Engasgue, machista. Quem amou?
Jimmy: Entendo, entendo. “É tudo tão terrível, ‘nós morremos também’, é incomparável”. Esse verso é forte, né?
Agatha: Ah, sim. Falo do feminicídio, que é terrível, e às vezes dão essa desculpinha de que os homens também morrem, mas eu nunca vi um homem morrer por causa do sue gênero, então é mesmo incomparável, nem faz sentido você dizer isso, chega a dar vontade de rir para ser sincera porque não faz mesmo o menor sentido.
Jimmy: “Uma xícara de chá com o Chapeleiro Maluco, conversando sobre como não importamos”. Acho que você já falou sobre isso nessa entrevista, não? A desigualdade social no País das Maravilhas.
Agatha: Isso! Mais referências! Tá ligado, hein? É a desigualdade social clara que vemos com o Chapeleiro Maluco. Nesse caso, ele não importa para a sociedade. Eu também não pois sou uma mulher. É assim que o mundo funciona, entende? Uma crítica a isso.
Jimmy: “Suas mãos têm sangue de um milhão de mulheres. Não é o período, otário”. Pode falar sobre isso?
Agatha: Hum, não sei se tem o que explicar. Geralmente eu tento não ser muito enigmática e usar menos metáforas no bridge porque acredito que nessa parte da música tudo que tinha que ser dito de forma subjetiva já foi, então gosto de ser mais direta. Sangue de mulheres mortas, ué. O que exatamente você queria saber para eu explicar melhor?
Jimmy: Hum... Especificamente, o que é período?
Agatha: Ah! Hahahahaha! Meu Deus, homens... Menstruação, querido.
Jimmy: Ok! As coisas agora fazem muito mais sentido! Hahaha! Obrigado pela explicação. Estou me sentindo o próprio otário da música. Podemos ir para a outra faixa antes que isso se torne mais constrangedor e embaraçoso do que já está? Sério, que vergonha!
Agatha: Tudo bem, haha! A próxima faixa, então, vamos!
Jimmy: Ok! Por favor nos conte sobre a poderosíssima Salem!
Agatha: Salem é, na verdade, uma música antiga, que eu escrevi há três anos, mas era completamente diferente de como é hoje, eu fiz várias modificações quando decidi a reincluir no álbum para que se adaptasse melhor ao conceito, entende o que eu quero dizer?
Jimmy: Uau, eu não esperava por essa. Não mesmo. Salem é uma música antiga, então. E por qual motivo você achou que seria uma boa ideia colocar uma música antiga no seu álbum?
Agatha: Por que não? Se eu escrevi e se se encaixa no conceito do álbum, por que eu deveria deixar de fora? Eu fiz isso com Dirty Desire também. Era uma música antiga e eu reescrevi, readaptei e usei no Chaos. E hitou bastante, então eu acho que foi uma ótima ideia.
Jimmy: Sim, faz sentido. Mas e quanto à letra? O que você pode nos passar acerca do lirismo da música? Sobre a letra.
Agatha: Eu basicamente faço uma comparação às bruxas que eram queimadas nas fogueiras durante a Idade Média. Para ser sincera, um fato curioso é de que em Salém, que é uma cidade dos Estados Unidos, as bruxas não foram queimadas, elas foram enforcadas. As fogueiras foram unicamente usadas em território europeu, principalmente na Inglaterra. O método de execução das que eram acusadas de bruxaria era a forca. Eu sei disso, mas é bem mais interessante falar sobre fogueira do que sobre enforcamento, então tomei essa licença poética e artística para citar Salém na música, mesmo sabendo que bruxas não foram queimadas lá.
Jimmy: Isso é realmente interessante, eu não fazia ideia. Pensei que as fogueiras tinham sido no mundo todo, mas aparentemente foi apenas na Europa! Que interessante! Adoro estes fatos históricos inusitados que mostram que estávamos errados sobre uma coisa que jurávamos estar certos a vida toda, haha. Mas enfim, continue.
Agatha: A música é outra crítica ao machismo e ao sexismo, complementando Wonderland, é óbvio. A música fala sobre queimar as mulheres que não concordam com o que você diz e resolvem se pronunciar contra, pois se elas estiverem mortas, estão silenciadas e não podem te contrariar. É assim que funciona a sociedade atual se você prestar atenção. É como a capa da invisibilidade que eu falei na música passada, mas de maneira mais violenta. Se somos invisíveis ou se estamos mortas, de qualquer maneira, não podemos contrariar os homens que acham que estão sempre certos e eu acho isso uma grande babaquice, sendo honesta com você. Qual o problema em entender que seres humanos são iguais? Que cansativo!
Jimmy: Imagino sua fúria, Agatha. O que eu achei interessante na música é que a todo momento havia backing vocals gritando “Burn that witch! Kill that b*tch!”. Por que você resolveu usar esses backing vocals?
Agatha: Ah, porque quando canto essa música, me imagino amarrada a uma enorme estaca de madeira com várias pessoas ao meu redor com crucifixos apontados para mim enquanto gritam “queimem essa bruxa, matem essa v*dia” e mais a frente dois homens com longas capas pretas e chapéus largos também pretos, além de uma cruz no peito pendurada por um cordão grosso ao redor do pescoço. Eles estão segurando Bíblias e rezando enquanto vão colocando lenha aos meus pés, prontos para acender o fogo e me mandar para o inferno de onde eu vim.
Jimmy: Eu consigo perfeitamente imaginar uma cena assim. Acho que seria a música perfeita para se fazer um clipe. Me diga, pretende fazer um vídeo para Salem? Eu acho que seria incrível.
Agatha: Se você tivesse me perguntado isso há dois meses, minha resposta com certeza seria que sim, mas hoje eu já não tenho mais essa vontade, sabe? Eu acho que o conceito de bruxa queimada na fogueira ficou um pouco batido e eu sinto que não tenho mais nada a acrescentar nisso fazendo um clipe com algo que todo mundo já viu. Eu gosto de inovar, entende? Teve o filme maravilhoso da Dark Bae com a Kierah e a Williams recentemente, além disso tem a música da Rose com a Brie e com a Williams que provavelmente vai ganhar um clipe. Eu não quero competir. Acredito que há outras faixas no álbum que merecem um clipe tanto quanto Salem e pretendo trabalhar nelas no futuro, entende o que quero dizer?
Jimmy: Basicamente você está nos dizendo que terá outros clipes para a era Violence? É isso mesmo? Que emoção!
Agatha: Calma lá! Haha! Eu pretendo fazer apenas mais um clipe para a era Violence. Como eu disse, eu já não gosto tanto do álbum assim e não estou muito animada para continuar com ele, portanto não pretendo investir tanto assim na divulgação e não vou prolongar tanto para que não fique chato e massivo tanto para mim quanto para vocês. Mas eu posso garantir que estou trabalhando em um segundo clipe para a era porque eu amo visuais e vou continuar fazendo-os sempre, me entende?
Jimmy: Uma boa notícia ao menos! Que bom que você vai continuar fazendo os clipes! Também mal espero para ver os clipes do Agatha Melina 3! Já está pensando neles, tem alguma ideia?
Agatha: Nossa, como você é apressado. Nem tenho ideias para o segundo clipe da era Violence ainda, veja lá! Haha!
Jimmy: É, mas eu me lembro muito bem que você disse uma vez que o primeiro clipe que fez foi o de Dirty Desire, depois o de Unholy, mesmo sabendo que Earthquake seria o primeiro single. Vai que você já está adiantando algumas coisas, não é?
Agatha: É, faz sentido, mas não, não estou ainda. Mas é a minha cara fazer isso mesmo, minha resposta provavelmente não vai ser a mesma daqui a uma semana, pode ter certeza disso.
Jimmy: Bem, antes de partirmos para a sétima faixa do álbum, tem uma coisinha sobre Salem que não discutimos e que eu ainda gostaria de falar com você. Uma coisa muito importante!
Agatha: Sério? O que é de tão importante assim?
Jimmy: O instrumental, é claro! Eu acho um dos melhores do álbum! Você não tem noção do quanto eu amo todos os elementos do instrumental!
Agatha: Ah, eu acho que o instrumental foi muito bem pensado mesmo. Obrigada ao produtor incrível Frank Akkerman que fez a produção dessa faixa maravilhosa. Eu amo o medievalismo que aqui toma um aspecto muito sombrio que combina perfeitamente com o clima gerado durante a faixa. Todos os instrumentos foram muito bem colocados e eu gostei de como a minha voz até soou mais grave ao mesmo tempo que mais fina, essa música é perfeita mesmo. Falando assim, volta a me dar vontade de lançar como single e fazer um clipe incrível, mas eu já decidi que não vou, haha. Ai, Jimmy, você só me deixa confusa sobre o que fazer com a minha própria era! Agora eu realmente não tenho certeza do que fazer!
Jimmy: Que bom que te fiz pensar pelo menos, hahaha! Ok, podemos ir para a próxima música: Revolution! Acho que as coisas ficam um pouco mais caóticas a partir desse ponto do álbum, né?
Agatha: Ah, com certeza ficam! Bem mais agressivas e violentas.
Jimmy: EU gosto como essa música não possui uma estrutura definida, ela simplesmente vai rolando. É quase como uma interlude.
Agatha: Ai, fui pega! Revolution originalmente era uma interlude, mas eu decidi mudar isso antes do lançamento porque a faixa estava longa demais para ser uma interlude. Virou uma música como as outras.
Jimmy: Uau, desta vez eu quem fui perspicaz aqui!
Agatha: Acredito que Revolution seja um verdadeiro divisor de águas pois até então eu estava adotando uma postura passivo-agressiva e em Revolution eu basicamente digo “quer saber? Cansei de toda essa m*rda, agora eles vão pagar pelo que fizeram” e assumo uma postura exclusivamente agressiva, haha. É realmente como se eu estivesse apenas lamentando tudo o que estava acontecendo, relatando, e agora eu estou cansada e vou partir para a guerra porque é só assim que conseguimos as coisas.
Jimmy: Eu fiquei um tanto chocado quando ouvi a música pela primeira vez e acredito que muitas pessoas também ficaram. Eu gosto como ela já começa falando da Idade das Trevas, remetendo à música anterior, Salem, e não perde seu ritmo, vai seguindo seu curso natural.
Agatha: Sim, sim. Eu também adoro a agressividade nessa música. Me imagino gritando tudo isso na cara de um machista e me sinto muito bem, sendo sincera. Eu queria muito fazer isso um dia.
Jimmy: Eu confesso que adoro os versos “Nós não somos uma máquina de prazer, você entende? Se você quiser uma, compre uma de ordenhar que usam com vacas. Você não é tão diferente, mas elas cagam pelo buraco e você faz isso pela boca”. Garota, isso foi simplesmente... Chocante! O que você estava pensando quando escreveu isso?
Agatha: Eu estava mesmo possessa por raiva. Acho que por isso ficou tão bom, eu coloquei toda a raiva que tinha em uma para fora e foi este o resultado. Eu acabei gostando bastante.
Jimmy: Nos fale sobre essa tal revolução.
Agatha: A revolução é porque eu imagino essa música também sendo tocada enquanto várias mulheres saem nas ruas queimando tudo, erguendo bandeiras e gritando pedindo igualdade de gênero, direitos. É tudo o que pedimos. Imagino as mulheres nas ruas fazendo uma verdadeira revolução, que vai mudar o status quo da sociedade e fazer um lugar mais seguro para todas nós. E sim, para quem não sabe, uma revolução só é uma revolução quando muda o status quo da sociedade, ou seja, o modo de pensar das pessoas, e é justamente isso que almejamos.
Jimmy: Compreendo. Realmente impressionante tudo isso.
Agatha: Ai, obrigada. Acho que uma das razões pelas quais eu gosto de vir ao seu programa comentar sobre o meu álbum é que você me faz me sentir muito confortável sempre elogiando e sempre parecendo tão interessado em tudo, isso que é entrevistador de verdade.
Jimmy: Parecendo, não! Eu estou interessado em tudo, sim! Não diga que pareço, eu estou mesmo!
Agatha: Pois é, obrigada... Haha, e então, vamos para outra faixa?
Jimmy: Na verdade, receio que o nosso tempo seja curto agora, Agatha... Ainda faltam sete faixas do Violence para comentarmos e acredito que o tempo não será suficiente, por isso estou aqui te convidando para participar mais uma vez do nosso programa na semana que vem para continuarmos comentando sobre as faixas restantes, o que você acha?
Agatha: Seria tipo uma parte dois de um episódio especial de The Tonight Show starring Jimmy Fallon? Eu adorei a ideia!
Jimmy: Sim, isso mesmo! Então você topa?
Agatha: Com certeza, haha! Só me falar o dia!
Jimmy: A nossa equipe vai entrar em contato. Enquanto isso, no nosso tempinho que resta, eu gostaria de continuar falando com você sobre assuntos diversos. Já tenho algumas coisas em mente.
Agatha: Sobre o que você quer conversar, Jimmy? Pode falar, tô entediada aqui em casa o dia todo mesmo.
Jimmy: Você tem ouvido muita música ultimamente?
Agatha: Sim, haha! Não tem muito o que fazer, passo os meus dias literalmente ouvindo música, comendo, assistindo série, dormindo, e recentemente até baixei League of Legends e estou começando a jogar.
Jimmy: Uau! Já, já falamos disso. Bem, qual a sua música preferida do momento? Qualquer uma mesmo, só falar!
Agatha: Pergunta difícil, você me pegou de surpresa agora... Acho que por ser mais recente, estou gostando mais de Monster da Dark Bae, é definitivamente uma música incrível e eu tenho certeza de que vai hitar bastante. Três mulheres talentosíssimas juntas, eu amo!
Jimmy: Boa escolha, mas por que exatamente é a sua música favorita do momento? Tem alguma razão específica?
Agatha: Ah, mais ou menos, né? Eu sempre acompanhei a Dark Bae na surdina. Quando ela produzia pra Plastique, eu acompanhava tudo e achava perfeito. Eu até fico muito feliz que ela está trabalhando solo agora pois fica mais fácil de acompanhar. Se eu já tinha adorado o primeiro single dela, Princess Death, eu amei Monster. Trouxe a Williams, que é outra artista incrível que eu sou fã há séculos e ainda a minha amiga Kierah que é super talentosa e arrasou nessa música. Tudo isso com uma pegada dark, sombria que me conquista e sem falar do clipe maravilhoso que elas lançaram. O filme, perdão. Eu sou o tipo de pessoa que é muito pega pelo visual. Eu posso detestar uma música quando a ouço e a amar no momento seguinte em que eu assistir ao clipe. Isso me ajuda muito a estabelecer se gosto ou não de uma música para ser sincera e a Dark Bae conseguiu trazer qualidade de todos os jeitos. Acho que por isso é a minha música favorita do momento. Mas você só pergunta sobre mim. E a sua, Jimmy?
Jimmy: A minh? Hollywood Vampires da Kierah. Eu concordo que a Kierah é super talentosa e eu amei essa música nova dela, ela se manteve coesa com a sua era passada, sororidade total e muita consistência! Acredito que a Kierah se dá muito bem nesse pop mais calmo, às vezes puxado para um synthpop sem muito glamour também, é muito a cara dela. Ela devia continuar nesse estilo pois é fantástica no que faz.
Agatha: Ai, eu também gosto muito de Hollywood Vampires, mas sou uma pessoa que aprecia muito os momentos. Se você tivesse me perguntado semana passada, talvez também seria minha música favorita do momento. É que tudo passa muito rápido pra mim.
Jimmy: Entendo. E quanto a álbuns? Vem escutando algum?
Agatha: Ah, eu acabei de ouvir o The Holy Shit da AURA.
Jimmy: Eu ainda não tive a oportunidade de escutar. Me diga, vale a pena? Estava pensando em ouvir hoje à noite.
Agatha: Com certeza vale! Se estivéssemos em outros tempos que não fosse pandemia, as músicas iriam ser a trilha sonora de praticamente todas as casas noturnas porque são ótimas para isso. Ela conseguiu fazer um trabalho sombrio que continua dançante, eu achei isso muito interessante. Seria perfeito se tivesse sido lançado numa época de Halloween, mas é inviável visto que está muito distante. Ainda assim, parabenizo a AURA por ter entregue um trabalho de altíssima qualidade. Eu já havia virado fã dela assim que ela lançou Supernatural, tipo, eu amei a música!
Jimmy: Sim! A letra é maravilhosa! A música está inclusa no EP?
Agatha: Sim, sim. E se encaixa muito bem. Eu adoro essa música porque é muito sombria e me faz lembrar do Lord Byron, só consigo pensar nele quando ouço. Essa temática de espectrofilia é incrível. Ela soube explorar tudo de uma maneira magnífica e eu adoro isso.
Jimmy: Lord Byron foi o fundador do byronismo, não é?
Agatha: Sim, byronismo ou satanismo, chame como quiser. Antes que o pessoal de casa surte e nos acuse de ser satanistas, não tem nada a ver com nenhuma entidade maligna não, ok pessoal? É só um estilo de literatura inglesa que influenciou muitos outros estilos ao redor do mundo. Lord Byron é praticamente um ícone da cultura gótica, só isso.
Jimmy: Você já leu Noite na Taverna de Álvares de Azevedo? É do ultrarromantismo, escola literária brasileira que também foi inspirada pelo byronismo e o satanismo. É um livro incrível!
Agatha: Acredita que é o meu livro favorito? Eu amo de coração! A cada palavra que leio naquele livro sinto meu coração palpitando, uma falta de ar, como se eu estivesse num tanque de água somente com o rosto na superfície, tentando não morrer afogada. Eu amo essa sensação!
Jimmy: É uma obra incrível mesmo, é impossível não gostar!
Agatha: Enfim, ouça o The Holy Shit da AURA. Vale muito a pena.
Jimmy: Obrigado pela dica. Vou ouvir. Mas me conte que fiquei interessado pelo que você disse mais cedo: você tá jogando League of Legends? É sério isso mesmo? Haha! Como está sendo?
Agatha: Olha, Jimmy, eu vou ser sincera. Tá sendo horrível. Eu ainda estou aprendendo, não sei jogar, e eu morro mais do que mato. Eu joguei algumas partidas de treinamento e não consigo matar um monstro se quer! Eu estou com medo de tentar entrar em uma partida com outros jogadores e ser escorraçada por ser uma completa inútil para o time. Preciso me fortalecer e aprender o que fazer antes de sair por aí entrando em partidas alheias pois posso colocar o jogo de alguém a perder, me entende? Eu achei que estava arrasando pois estava me saindo super bem nas partidas de tutorial, mas assim que comecei a jogar mesmo, eu vi que essa realidade estava muito distante, haha! Uma tristeza só!
Jimmy: Mas você não acha que fez algo de diferente no tutorial e nas partidas de treinamento para ter essa queda repentina de desempenho? É realmente muito estranho isso acontecer do nada...
Agatha: Parando para pensar, você pode estar certo. Joguei o tutorial com a Miss Fortune e as partidas eu tentei com a Morgana e comum lobo que esqueci o nome. Eu me saí super bem com a Miss Fortune, com a Morgana foi um desastre. Com o lobo então eu fui uma verdadeira catástrofe mundial. Morri oito vezes e não consegui matar ninguém! Levei um susto quando eu estava lá tomando dano e apareceu a mensagem de vitória na tela falando que minha equipe, que era formada por bots, conseguiu destruir a torre inimiga. Me senti uma completa inútil! Mas agora que você falou, vou tentar jogar com a Miss Fortune de novo para ter certeza de que o problema são os outros campeões ou se sou só eu mesmo, haha.
Jimmy: Eu não jogo o jogo, então não tenho a menor ideia do que você tá falando, mas eu com certeza vou pedir atualizações do seu desempenho na nossa próxima entrevista semana que vem pois estou ansioso para ver no que isso vai dar! Então, mesmo se eu não pedir atualizações por ter esquecido, me lembre no final, por favor!
Agatha: Pode deixar, lembro sim... Só tem um problema. Você disse que não joga o que mesmo, Jimmy?
Jimmy: Hum? Eu disse que não jogo o jogo. Ah, não...
Agatha: Pois é. Eu perdi também, amigo.
Jimmy: Droga, Agatha! Nem tava lembrando! Perdi!
Agatha: Mas espera, a gente não tem imunidade? Você pode lembrar do jogo até trinta minutos depois de tê-lo perdido e já o perdemos nessa entrevista uma vez, então provavelmente estamos imunes!
Jimmy: Sem chance, eu já conferi o relógio. Já se passaram os trinta minutos e não estávamos mais imunes, perdemos de novo.
Agatha: E fizemos todo o pessoal de casa perder duas vezes, muito bom.
Jimmy: Que sadismo é esse, menina? Coitados dos nossos telespectadores.
Agatha: Ai, Jimmy, é aquele ditado: eu sou uma masoquista emocional e as pessoas ao meu redor são sadistas racionais.
Jimmy: Referência magnífica à Emotional Masochist! Eu peguei!
Agatha: Hahaha! Sabia que você entenderia quando eu dissesse.
Jimmy: Vejo que ainda temos alguns minutinhos, então eu vou te fazer só mais algumas perguntinhas, pode ser?
Agatha: Claro, não vejo problema algum.
Jimmy: Na verdade é uma espécie de jogo que nós vamos jogar...
Agatha: Lá vai você de novo... Dessa vez estamos imunes!
Jimmy: Ahhh! Sim! Imunidade! Mas não é esse o jogo do qual eu estava falando agora. Eu tenho comigo uma urna e vou tirar um papelzinho qualquer. Um exemplo. Eu vou pegar um papel e... Aqui diz: Mania nojenta! Você me conta uma mania nojenta que você tem.
Agatha: Nossa, que ótimo jeito de obter informações pessoais sobre um artista. Entendi, acho que podemos começar.
Jimmy: Mas, Agatha, já começou, minha querida... Mania nojenta.
Agatha: Ah, tá! Finge! Hum... Eu tenho um monte de manias nojentas para ser honesta... Mas eu acho que a mais leve para falar aqui é que eu tenho a mania de tirar meleca do nariz sempre que estou sozinha. Mas eu lavo as mãos ok, pessoal? Eu sempre lavo as mãos depois de fazer isso. Ai, nem é tão nojento, né? Eu acho que é mais nojento você deixar no seu nariz, dificulta a respiração às vezes, é horrível. E eu tenho em maior quantidade porque tenho rinite alérgica, então em qualquer lugar empoeirado é normal meu nariz ficar assim. E como eu tenho muita preguiça de arrumar a casa, ela quase sempre tá empoeirada. Olha aí outra mania nojenta. Me julguem se é o que vocês querem, mas é essa a verdade!
Jimmy: Isso foi muito bom! Eu realmente não esperava que você fosse contar quase toda a sua vida para a gente com apenas duas palavrinhas: mania nojenta. Mas obrigado pela honestidade, aprecio isso em você. E convenhamos: quem não tira uma meleca do nariz de vez em quando? Que atire a primeira pedra, pois eu faço sempre!
Agatha: Sim! Cara, temos que normalizar algumas atitudes humanas. Digo, somos humanos, somos nojentos! Não tem muito para ir além disso! Se fôssemos contar tudo o que fazemos sozinhos, ninguém nunca mais se aproximaria de nós, é fato.
Jimmy: Ok, nosso segundo papelzinho! Ele diz: um segredo que você nunca contou a ninguém. Nunca mesmo!
Agatha: Hum... Uma vez eu e o meu irmão Alec colocamos fogo no sofá lá de casa e minha mãe nunca ficou sabendo!
Jimmy: Agatha? Incendiária desde criança? O que é isso?
Agatha: Foi sem querer, eu juro! Nem lembro o que estávamos tentando fazer, mas eu estava com um palito de fósforo aceso e ele simplesmente caiu da mão direto no sofá. O fogo do palito acabou rápido porque cortou o ar e se dissipou, mas o problema é que deu tempo da chama alcançar o sofá. Eu e o Alec fomos correndo pegar água para tentar apagar o fogo, foi uma loucura, Jimmy! Por fim, conseguimos e não queimou tanto assim. O que mais estragou foi a capa do sofá, mas nós simplesmente tiramos e nos desfazemos dela, também não lembro como, e minha mãe não deu a falta até hoje. Ao menos, se deu, não nos contou. E que bom que não porque o Alec ia colocar toda a culpa em mim do jeito que aquele garoto mimado é.
Jimmy: Essa provavelmente é a história mais engraçada e maluca que eu já ouvi, meu Deus! Eu nem sabia que você tinha um irmão! Quantos anos ele tem? É mais velho ou mais novo?
Agatha: Ah, eu comentei poucas vezes, não sou o tipo de pessoa que gosta de falar de família, então é compreensível que quase ninguém saiba. Ele é mais novo, ele tem vinte anos.
Jimmy: Então ele é dois anos mais novo que você, certo?
Agatha: Exatamente. Logo eu faço vinte e três e ele faz vinte um. Ai meu Deus, o peso da idade é tão grande!
Jimmy: Larga de drama, eu tenho quarenta e cinco anos.
Agatha: Não vou mentir que é um fato bastante perceptível até...
Jimmy: Ahhhh! Hahahaha! Isso é porque estamos nos vendo pela vídeo-chamada, a qualidade da câmera me faz parecer mais velho. É perfeitamente normal se você quer saber.
Agatha: Câmera? Aonde eu moro chamamos de desculpinha... Ou melhor, na Romênia chamam de velhice isso daí!
Jimmy: Que humilhação, Agatha... Ok, vamos para o último papelzinho?
Agatha: Último já? Ai! Queria mais! Que chato!
Jimmy: Nosso tempo está acabando, mas na semana que vem continuamos com o nosso jogo, pode ser?
Agatha: Estamos imunes, né? Me diz que estamos.
Jimmy: Um momento, vou conferir no relógio... Estamos, graças a Deus! Bem, o último papel diz: Fetiche! Me conte um fetiche!
Agatha: Nossa, pegou pesado dessa vez, hein?
Jimmy: Não precisa responder se não se sentir confortável com a pergunta, só para esclarecer caso não saiba.
Agatha: Não, de boa. Sou aberta para esses tipos de assunto. Então, um fetiche meu? Hum... Eu diria que BDSM.
Jimmy: Agatha do céu! É sério isso? Pelo menos não foi fursuit.
Agatha: Ué, você me falou pra dizer só uma.
Jimmy: Muito bem! Depois dessa, acho que já podemos encerrar a nossa entrevista por aqui. Agatha, foi um prazer te ter em nosso programa e espero te ver aqui de novo na semana que vem para a segunda parte!
Agatha: Muito obrigada pelo convite, Jimmy. E pode ter certeza de que vou aparecer! Se a minha internet não cair...
Jimmy: Esperamos que não caia. Muito bem, para encerrar o nosso programa, eu gostaria que você cantasse pra gente. Daí da sua casa mesmo, pode cantar uma musiquinha para esse encerramento?
Agatha: Claro, canto sim. Ainda vou cantar duas para vocês verem como sou gente boa! Fiquem com Blasphemy e Salem!
Jimmy: Essa é a Agatha Melina, pessoal, cantando Salem e Blasphemy!
Agatha então coloca os instrumentais das músicas enquanto faz uma live cantando diretamente da sua sala de estar. Com o cenário limitado, a cantora tenta improvisar, mexendo a cabeça e sacudindo o cabelo enquanto faz movimentos leves como ombros que servem como a coreografia de sua apresentação improvisada. Após cantar as músicas, ela lembra a todos que o álbum Violence já está disponível em todas as plataformas digitais de streaming, bem como o single Blasphemy e faixa Salem que ela acabou de cantar. Se despedindo do pessoal de casa e de Jimmy Fallon, Agatha desliga a sua câmera e Jimmy faz o encerramento do programa elogiando Agatha e sua qualidade musical mais uma vez.