Norma Claire: Obrigada, obrigada! Boa noite, aliás (risos). Sabe, eu conheci esse podcast de uma maneira um pouco engraçada. Ok, lá vai: eu tinha ido ao mercado comprar uns limões pra uma receita de chá que eu tinha visto na Internet. Mas eu entrei no mercado, e bem, estava lotado. Com muita luta, peguei um saco de limões e aproveitei pra comprar mais umas coisinhas. Eu precisava voltar pra casa rápido, porque tinha marcado uma entrevista com a revista Varsity pra gente conversar sobre o processo de criação do meu álbum e tudo mais. E eu ia, ia voltar pra casa, mas caiu uma tempestade terrível. Eram raios, e alagavam as ruas, e as pessoas tentavam ir embora correndo. A luz do mercado acabou e as portas de emergência abriram pra que fôssemos embora. Era muita chuva, eu tava sem sinal, não conseguia pedir um Uber ou qualquer coisa. Mas aí eu olhei pro outro lado da rua e vi as pessoas usando celular no Starbucks e lembrei: ei, o Starbucks tem internet gratuita e um bom sinal. Cobri a cabeça com o saco de limões e corri até lá. Pedi o Uber e ele me pediu pra que eu esperasse a chuva amenizar. Daí, eu aproveitei que já estava lá e pedi um café, e o café vinha com o copo personalizado com um anúncio do Midnight Gospel. Então eu ouvi o primeiro episódio enquanto tomava café esperando a chuva passar. Resultado? Esqueci do motorista, perdi a entrevista. Mas cheguei viva em casa.

Midnight Gospel: Gostei, gostei de como essa história foi contada. Veja bem, você poderia resumir dizendo que viu um anúncio no Starbucks e resolveu ouvir. Mas é, eu senti como os limões eram uma parte dessa história. E pra ser sincero, eles até fazem sentido com o tema do episódio de hoje... calma, eu nem falei ainda né? Hm, meus fãs votaram no tema Morte. Eu achei meio sinistro, mas eu pensei “uau, a Norma Claire é tão espiritualizada e entende tão bem desses assuntos, será que ela aceitaria?”, E pra minha surpresa e pra surpresa dos seus limões aleatórios, você aceitou.

Norma Claire: Mas calma, o que isso tem haver com limões?

Midnight Gospel: Ah, você também não lembrou daquele ditado? Digo, eu sei lá como é o ditado, mas fala de limões e da vida e que a vida pode ser um limão. Uma coisa assim, sabe do que tô dizendo ne? Sabe, imagina que os limões representavam a vida e a chuva a morte. Você se cobriu com eles, colocou tudo em cima e só partiu sem medo.

Norma Claire: Sem medo? Ah, ok, acho que ansiedade é uma coisa que todo mundo tem, e acredita, eu tive naquela hora. Foram tantas as possibilidades de como aquilo poderia ter dado errado. Mas a vontade de chegar em casa, ver meu filho e fazer a maldita entrevista foram maior. Parece otimista, mas esse exemplo deu certo comigo: “quanto mais força de vontade, melhor”. Mas por um minuto, a vontade de ver meu filho foi maior que o medo de morrer. Na verdade, acho a morte tão superestimada. É irônico eu dizer isso porque acredito em espíritos e tudo mais, então eu até entendo quem realmente se preocupa e se traumatiza por isso. Tipo, pode parecer meio triste mas eu me conformo que sou só um corpo e que meu espírito, meu verdadeiro ser, é quem vaga por várias vidas. Isso aqui é só enfeite. Eu vou ver todo mundo de novo, um dia, em outra vida.

Midnight Gospel: Uau... isso é tipo, realmente pesado. Cara, o amor a vida é o que faz ela ser tão única.

Norma Claire: Mas aí é que tá! Como eu posso garantir que ela é a única? Vou viver com emoções a flor da pele, vulnerável as piores sensações do mundo, por nada? Eu sei que tem mais, tem que ter.

Midnight Gospel: Você também não pode garantir isso. É como, é como viver no escuro. Você não sabe o que tá na sua frente mas mesmo assim você continua andando e continua dando seu jeito pra sair dessa merda, sabe? Tipo, faz muito sentido aquele ditado de “viver todos os dias como se fossem os últimos”. Isso se aplica na vida também.

Norma Claire: Quer dizer, viver essa vida como se fosse a última? Bem, se eu entrar nesse processo de conhecer meu espírito, eu vou ter essa resposta antes mesmo antes de morrer. Sabe, a ansiedade entra nessa mais uma vez. Não dá pra viver no escuro. A gente é o tipo de ser que precisa de respostas. Que precisa entender o porquê de tudo. Eu não sou diferente. Gosto e quero entender o porquê de eu estar aqui e o porquê de eu partir em um futuro qualquer. Dizem que a resposta está dentro de nós mesmos, então essa é a tal coisa que eu busco. A resposta!

Midnight Gospel: Mas você só vai ter essa resposta quando morrer. É lá que todas as histórias terminam, no fim, dentro de um caixote de madeira bem debaixo da terra ou em uma urna barata.

Norma Claire: Querido, entenda. A história nunca termina. É uma evolução constante, sabe? Eu tenho o exemplo perfeito pra essa história. Veja bem, eu tenho uma horta no meu quintal e ah, olha ele aí de novo! Um limoeiro. Ele já estava lá bem antes de eu me mudar, na verdade, por isso era bem grande. Abandonado, eu hidratei, cuidei e ele voltou a dar os frutos mais lindos. Aos poucos, me descuidei e ele acabou morrendo. Mas veja bem, não era o fim da história. Aquela terra ainda tava fertilizada. Eu usei-a nas minhas outras plantações, e hoje meu jardim é bem grande, cheio, rico e bonito!

Midnight Gospel: É, e aí... fim da história! O final feliz que o limoeiro merecia.

Norma: O que? Não, não foi o fim! Mesmo morto, aquela mesma terra serviu pra que outras várias plantas crescessem e descem frutos no meu jardim. E assim vai permanecer. Como eu disse, uma evolução constante. Uma única árvore pôde se tornar um jardim inteiro. Entende o que eu quero dizer? A vida, a vida é isso. E a morte também. É parte da evolução.

Midnight Gospel: Então você não acha que a morte é o fim?

Norma Claire: Acho que ainda tem muito pra acontecer depois da morte.

Midnight Gospel: Ah, mas fala sério! Olha pra você! Rica, famosa, mãezona. Você não prefere acabar a história aqui do que se sujeitar a vir o completo oposto na sua próxima vida? Cara, que vida dos sonhos! Você é um espírito mega evoluído. Porque não acaba com essa tortura? Digo, viver na terra é tipo, uma super-tortura. Sei lá, não bate nem uma tristeza? Fala sério, eu fiquei triste por você.

Norma Claire: Me entristece pensar nisso, claro que sim. Mas... tudo é feito de ciclos, né? Eu não posso impedir que isso acabe. É meio que uma coisa divina. Vou viver e aprender e evoluir até que isso pare. Eu também não posso controlar ou forçar uma força divina (risos).

Midnight Gospel: No final de tudo você pegou a morte e transformou em esperança, né?

Norma Claire: Peguei o limão mais azedo da vida e fiz a melhor das limonadas!

Midnight Gospel: Olha ele aí de novo (risos). Ok, essa foi mega genial. Eu podia concluir o programa bem aqui. O que acha de eu chamar esse capítulo de Limão? É tipo, um baita de título conceitual.

Norma Claire: Eu adorei participar do limão! Foi tipo, o melhor limão que eu já pude participar. Na verdade esse é o único limão que eu já participei. 

Midnight Gospel: É galera, esse foi o ... bem, o limão. Ou melhor, o episódio 75. De Midnight Gospel pra Terra! Adeus!