Post by ramprozz on Jun 18, 2020 22:03:13 GMT -3
Nesta quinta-feira (18) Kang Sohee, mais conhecida como Sona, a líder do HY!PER foi convidada pela rádio coreana KISS THE RADIO para discutir diversos assuntos. A radio é conhecida por fazer perguntas indagantes, cobrando um posicionamento sólido do idol. Os temas principais da entrevista foram: a conexão do k-pop com a política coreana, como a indústria se molda ao redor de um k-idol, e como está o desempenho do HY!PER dentro dos parâmetros de sua empresa.
KTR: Boa tarde ouvintes da KISS THE RADIO! Hoje trazemos uma convidada que nunca esteve aqui antes. Ela é a líder do grupo HY!PER, que recentemente fez seu comeback com seu segundo mini-album "GL!TCH" (isso, com a exclamação no lugar do I), que aborda muitos temas interessantes, como percepção da realidade, wabi sabi, e posicionamento de um idol quanto as críticas. Seja bem vinda Sona!
Sona: Annyeong-haseyo! HY!PER leader Sona inmida! Muitissimo obrigada. Sem duvidas nenhuma ser abordada pra falar de assuntos assim é incrível para mim.
KTR: Diga-nos Sona. Você foi creditada na composição de grande parte das músicas do disco, logo, presumimos que entenda bastante dos assuntos que constituem a letra das suas músicas, correto?
Sona: Claro que sim. Infelizmente, o K-Pop as vezes carrega um estigma onde as letras beiram o superficial apenas pelo seu potencial comercial, principalmente no mercado ocidental. Eu acompanho muitos fóruns de Pop e K-pop, e vejo muita gente falando "Ah, mas como vou aproveitar se eu não entendo o que eles estão dizendo" ou "Você só curte essas músicas porque não faz ideia do que estão falando". Eu acho que dizer isso é afirmar sua incapacidade de quebrar a barreira da linguagem. A internet é um lugar enorme, e você como vivente do ano 2020 tem acesso a muitas coisas. O mundo seria um lugar completamente diferente se qualquer lugar simplesmente fechasse as portas para consumir outra cultura simplesmente por ser em uma linguagem diferente. No K-pop mesmo, muitas músicas tem inglês no meio, alguns grupos exploram o mercado japonês, e até o chinês. Você não perde nada se digitar no YouTube "HY!PER - ZENITH tradução em inglês", bem pelo contrário, como minha avó sempre dizia, conhecimento é bom, e não ocupa espaço!
KTR: Honestamente, jantou.
Sona: * risos * Obrigada, mas é bem importante levar isso à serio. Algumas mensagens do álbum, como a de Starfall, são direcionadas a realidade que vivemos aqui dentro da indústria do KPOP, porém pode se aplicar em qualquer lugar, pois todo o mercado de alguma forma vai danificar a integridade de seus inseridos. Em Zenith é quase como uma conversa sobre assuntos como "Por que as pessoas mais velhas acham tão difícil entender conceitos novos, como relacionamento aberto, globalização e tecnologia, diversidade e etc. É triste de admitir porém esse pensamento foi enraizado neles por criação, e sucessivamente até chegar em mim, na minha geração, talvez um pouco mais antes, porém a desconstrução social é uma novidade em diversos lugares do mundo, e a Coreia é um desses lugares.
KTR: Com certeza. A cultura coreana felizmente vem se transformando bastante nos últimos anos, e cada vez mais o kpop tem se tronado a imagem que a coreia vende para o exterior. Você, como idol, sente o peso de que seu desempenho mostra ao mundo a cara do nosso país?
Sona: Com certeza. Querendo ou não, o KPOP se tornou uma ferramenta política de soft power da Coreia. A cada lançamento estourado, é feita basicamente uma projeção de determinados valores, looks, atitudes sobre a mídia, e como pessoas consomem mídia, é a receita perfeita para criar influência. Pra discutir isso a gente precisa buscar um pouco na história da Coreia. O Kpop surgiu num momento que a industria da Coreia estava muito fragilizada, alí depois da Segunda Guerra mundial, quando o Japão perdeu e a Coreia se libertou. O governo Coreano percebeu que o melhor caminho para inserir sua identidade em outros países era através da cultura, tanto que nesse período o governo fez enormes investimentos na produção cultural. Hoje em dia, até existe um departamento governamental destinado apenas ao KPOP. Essa foi a estratégia feita, e deu muito certo. Hoje, cada vez mais o KPOP vem se globalizando, e arrastando vários outros elementos da Coreia: os doramas estão cada vez mais famosos, a procura para aprender a falar coreano subiu exponencialmente nos últimos anos, a culinária da coreia se popularizou na internet... até o marco mais recente foi o filme Parasite ganhando um Oscar. Só nesse tempo, a Coreia subiu 22 posições, se tornando o 6° país com o maior mercado fonográfico do mundo, e isso em questão de duas ou três décadas. Por isso que quem vende a imagem do país somos nós, os idols. Quando a Coreia é representada em algum lugar, culturalmente falando, são enviados grupos ou idols que sejam de grande influência, por isso nós recebemos tanto treinamento antes de debutar. De forma nenhuma isso é uma crítica, a estratégia do nosso país foi simplesmente genial, e acabou se tornando uma das maiores fontes de mídia da atualidade.
KTR: Exatamente, e mesmo dentro do país, as músicas e os MVs influenciam a população.
Sona: Claro. Há vários grupos que mais de 50% do público ainda são crianças ou adolescentes. Esse público vai formar a geração futura, e seus valores e ideais são formados pela cultura que eles estão consumindo agora. Então toda a influência do KPOP no mercado vai refletir em alguma coisa daqui alguns anos, dentro e fora da Coreia. Então respondendo sua pergunta: sim, eu sinto o peso de estar provendo o repertório sócio-cultural das pessoas que vão constituir a Coreia daqui alguns anos. E acho que é muito importante que mais idols comecem a compartilhar dessa visão, ou pelo menos terem alguma noção de quanto suas atitudes são importantes... Isso na verdade acabou soando mais tradicionalista do que eu gostaria, quero acrescentar algo: Com "noção de como suas atitudes impactam na sociedade" é de um modo geral: Se você reproduz valores antigos, que pregam mentalidades claramente retrógradas, como machismo, você está usando sua visibilidade para influenciar mais pessoas a agirem assim. É absurdamente importante que nós, como idols da 4° geração, e os idols que virão nas próximas gerações do KPOP, ajudem a construir uma mentalidade mais saudável e libertadora, que abrace as pessoas sem, mostre a importância de valores, sem exercer a pressão social monstruosa que existe nos dias de hoje.
KTR: Sona, é a primeira vez que vejo um idol reproduzindo um pensamento assim, simplesmente incrível. Eu gostaria de te perguntar como esses fatores seriam aplicados ao HY!PER....
Sona: Essa é uma situação delicada. O HY!PER é um grupo montado em cima de um conceito. Nosso conceito é fliperama, garotas que vão parar dentro de um universo de video-game, tentando escapar de lá. Porém, como a música é algo completamente moldável, nada impede de nossas músicas terem várias camadas de compreensão, trazendo esses temas, mesmo que em metáforas para dentro do universo do HY!PER. Como mencionei antes, Starfall, uma das bsides do GL!TCH, fala sobre como os idols são tratados como produtos. É claro, não por acaso, como o KPOP é uma indústria, ela vai cumprir seu papel econômico de gerar lucro. Porém mais e mais as empresas vem descartando idols quando passam de uma certa idade para manter seus produtos "frescos". Megara e Sarah brilhantemente adicionaram os versos que falam da objetificação sobre o conceito sexy. Nunca vou imaginar a dor da Sarah tento que passar pelo contrato abusivo que foi o da CAY ENT., que caso algum ouvinte não saiba, resumidamente foi uma empresa que por um disfarce comercial treinava jovens de 15-16 anos para serem hipersexualizadas em apresentações no exterior. Felizmente, acho que a administração da Arcade Entertainment é além de muito eficiente e coesa, dá muito espaço e liberdade nos nossos contratos. Não há restrições de namoro, por exemplo, porém a empresa pede que caso ocorra, ela seja comunicada, até para tomar medidas cabíveis de proteção contra sasaengs ou assédios de mídias como a Dispatch.
KTR: Ouvimos falar muito bem do contrato da Arcade. Mas agora como está vossos contratos? Agora que estão acociadas a Body&Seoul ENT?
Sona: O contra vigente é quase o mesmo, com alguns ajustes comerciais apenas, mas é notável a diferença de visão do CEO. Eu não posso... entrar em muitos detalhes justamente pois o HY!PER faz parte da B&S, mas o posicionamento dela quanto ao caso de KJ e Apollyon oppa foi um tanto extremo * riso nervoso *. De forma nenhuma vou passar a mão na cabeça do KJ-oppa dizendo que ele agiu certo hmm, porém a nota emitida realmente mostra traços que vão mais fundo do que apenas "Ah ele mentiu". . . Certo ele não estava, traição nunca é correto. Porém medidas cabíveis deviam ser tomadas para reparação dos danos com a senhorita Liebe. As medidas que foram aplicadas foram excepcionalmente punitivas ao KJ-oppa, e de nenhuma forma me pareceu reformar algum erro. Eu prefiro não me estender mais do que isso.
KTR: Claro, Sona. Agradecemos imensamente pela sua participação na KISS THE RADIO.
DIVULGAÇÃO PARA "ZENITH" E "DISCOVER && VARIANCE"