Post by aquaphorrecords on Oct 14, 2019 17:31:56 GMT -3
Com os últimos acontecimentos tensos que ocorreram nos últimos dias, a Vogue conversou com Lazuli, uma das artistas femininas mais ouvidas do mundo, para falar sobre política, música e tudo que aconteceu. Alerta de material sensível.
A rápida ascensão de Lazuli ao sucesso mundial tem sido inesperada. Certamente ninguém, e muito menos a própria Lazuli, poderia ter previsto uma trajetória tão extraordinária desde que entrou de forma silenciosa, mas assertiva, na consciência da música em 2019, com o single de estreia Fuzuê. No início de 2019, Lazuli tornou-se na artista feminina mais ouvida do Spotify - a música Fuzuê arrecadou, sozinha, mais de 200 milhões de streams e visualizações. Mas a vida não é feita apenas de festa, e toda essa fama traz consequências péssimas. E este é o tema de hoje.
Desde que se tornou bem sucedida, usa a sua plataforma para mudanças positivas, seja para alimentar causas, como Médico sem Fronteiras, seja para conversar sobre a disparidade de gênero na indústria da música. Lazuli é uma estrela com propósito, uma jovem determinada a desafiar e abordar questões globais, com capacidade para empoderar a sua fanbase jovem.
Aqui, a cantora conversa com a Vogue sobre o seu crescimento na indústria e sobre o que vem a seguir.
Em que mais situações já se deparou com a disparidade de gêneros enquanto cantora?
Há muitas artistas novas incríveis e muita música incrível a ser feita por mulheres fortes, tornando-se impossível de ignorar. É muito bom ver que há cada vez mais mulheres a serem nomeadas em premiações e a vencer categorias importantes. As pessoas estão começando a acordar, mas ainda há muita desigualdade no mundo. Às vezes sinto que, por ter sido criada no Brasil, moro nesta pequena bolha. Quando vim para a América e viajei para outras partes do mundo, vi muito mais. Fico chocada que isso seja uma realidade. São coisas sobre as quais falo e luto constantemente. Mesmo quando entendo a desigualdade, é algo que ainda me choca.
Quais são os novos nomes na cena musical pelos quais está entusiasmada?
Adoro Catarinna, a Onika, a Ozzy, o Prism, o novo álbum da Brie, as novas músicas da minha querida Plastique. Tudo é muito bom. Estou obcecada.
A Lazuli é uma das artistas femininas mais ouvidas do mundo…
Assustador.
As suas músicas somam milhões de reproduções. Como é que você observa o seu sucesso nestes termos?
Estou muito grata pelo fato das pessoas quererem ouvir as minhas músicas e por as tocarem nas festas. Os números são inacreditáveis e enquanto estive no processo de escrita deste álbum não pensei nisso, e isso é incrível. Isso faz com que eu queira trabalhar mais. Quero voltar e fazer com que as pessoas se sintam orgulhosas.
Enquanto estrela indie já alcançou muito, mas, por outro lado, também sentiu muita pressão. O que faz para tomar conta do seu bem-estar mental?
A minha família e os meus amigos sempre conseguem me manter calma, eles me conhecem como ninguém. Tive que aprender a usar as redes sociais de pouco em pouco. As redes sociais estão muito presentes na minha geração, e para mim é muito divertido publicar fotos e estar interagindo no twitter. Mas também recebi muita negatividade por pessoas que não gostam do meu trabalho, que não gostam de mim. Não sou daquelas pessoas que pede desculpa por dizer aquilo em que pensa e acredita. Às vezes apago a aplicação para não pensar muito no assunto.
Eu sofri muita perseguição pela mídia, derramei muitas lágrimas. O sequestro não foi algo fácil, e toda a tortura e agressão foi algo que nunca mais vai sair de mim.
Eu sofri muita perseguição pela mídia, derramei muitas lágrimas. O sequestro não foi algo fácil, e toda a tortura e agressão foi algo que nunca mais vai sair de mim.
Aquilo que me mantém ativa nas redes sociais - e isto é mais no Twitter do que no Instagram - é o contato que posso criar com os meus fãs. Eles são a razão pela qual voltei a usar tecnologia, para poder comunicar com eles. Os meus fãs me conhecem muito bem e às vezes recebo mensagens dizendo: “Nós sabemos que você precisa de um tempo fora do Twitter, só queríamos te dizer que sentimos a tua falta.” E isso é tudo na minha vida vida. É preciso saber manter o equilíbrio. Não posso estar sempre certa, mas posso sempre tentar.
Você passou muita coisa nos últimos dias. Pode explicar pra gente o que aconteceu?
Eu estava voltando do Canadá, depois que participei do The Social. Quando meu voo pousou, meus seguranças tiraram minhas malas e um carro chegou. Eu entrei por que achei que era o meu motorista, já que o carro e até a placa era o mesmo. Mas quando entrei, eles trancaram as portas e apontaram a arma pra mim. Nisso me vendaram e me levaram para um cativeiro, onde me espancaram e torturaram. Tenho marca dos choques, eles arrancaram um dente meu. Cortaram meu cabelo, fizeram eu vomitar sangue. Depois de horas apanhando, eles me levaram pra outro lugar. Disseram que eu estava vendida. Na hora eu não entendi, mas depois eu soube que fui anunciada na deep web. A pessoa que me comprou foi minha melhor amiga, e ela me libertou.
Como se sentiu sendo vendida?
Uma mercadoria, um objeto barato. Fui leiloada e o mais triste de tudo era que haviam ricos que realmente queriam me comprar, me pôr no catálogo deles. A maioria era políticos, e eu fui proibida de revelar os nomes. Mas sei cada pessoa que está por trás disso, e não vou deixar em vão.
Ficha técnica
Fotografia de Cameron McCool
Styling de Max Ortega Govela @ CLM
Cabelo: Sami Knight @ Starworks
Maquiagem: Lilly Keys @ Exclusive Artists
Nail Artist: Kimmie Kyess @ Celestine
Produtor executivo: Carolina Takagi
Diretor de arte: Sandra Leko
Agradecimentos especiais a Carl Fysh